São Paulo (AUN - USP) - Pesquisadores do Laboratório do Sono do Incor (Instituto do Coração) e o Grupo de Transplante Cardíaco da Faculdade de Medicina da USP descobriram que os distúrbios respiratórios do sono estão intimamente relacionados com doenças cardíacas, acelerando a deterioração do sistema cardiovascular.
Para chegar a estas conclusões, um grupo de 84 pacientes - 65 homens e 19 mulheres - avaliados para serem submetidos a transplante de coração, foram acompanhados por um período médio de 11 meses, chegando ao máximo de 50 meses. Desses, os que tiveram a menor sobrevida foram os 30 % - 26 pacientes - que possuíam um distúrbio respiratório chamado respiração de Cheyne-Stokes, que causa uma instabilidade do controle ventilação tanto no sono quanto ao fazer exercícios físicos. “Durante o sono a respiração é constante, mas chega a um pico e depois diminui”, diz Geraldo Lorenzi, pneumologista e pesquisador do Laboratório do Sono. O que ocorre é que para compensar o retardo circulatório, esses pacientes respiram mais rápido e mais fundo. Assim, o nível de gás carbônico no sangue cai deixando o centro respiratório instável. Observou-se também que com o aumento do exercício físico, a ventilação, que deveria aumentar linearmente, é periódica. “A respiração aumenta, mas desordenadamente. Ela sobe de maneira oscilatória”, afirma Lorenzi.
O estudo - tese de Doutorado do cardiologista João Jorge Leite - publicado em junho deste ano na revista americana Journal of the American College of Cardiology (volume 41, número 2, página 2175 – 2181) é apenas um dos argumentos que comprovam a tese de que distúrbios respiratórios estão ligados a doenças cardíacas.
O mais comum dos distúrbios do sono é a apnéia (parada respiratória) obstrutiva do sono, que atinge de 2 a 4% da população americana e 30% dos hipertensos. Ela consiste no relaxamento da musculatura da garganta, que, por sua vez, se fecha impedindo a passagem de ar. Segundo Lorenzi, a apnéia é tão freqüente que é considerada um problema de saúde pública. “Quando ocorre o fechamento total da garganta, o indivíduo até tenta respirar, mas não consegue, o que diminui ciclicamente a respiração. Ele só volta a respirar com micro-despertares”, afirma. Esses micro-despertares ativam o sistema adrenérgico, responsável pela liberação do hormônio adrenalina, que dispara os batimentos do coração e aumenta as chances desse indivíduo desenvolver doenças cardíacas.
“Estamos observando que os mesmos pacientes com doenças cardíacas que chegam até nós também têm apnéia obstrutiva do sono, e que isso contribui para a deterioração cardíaca”, diz Geraldo Lorenzi, pneumologista e pesquisador do Laboratório do Sono. Os principais fatores de risco para ter algum distúrbio respiratório são os mesmos das doenças cardíacas como a hipertensão e doenças coronarianas: ser do sexo masculino, obeso, sedentário, ingerir muito álcool ou fumar.
As formas de tratamento para a apnéia envolvem quatro alternativas. A primeira é eliminar o excesso de gordura corporal, o segundo é usar uma prótese dentária que puxa a mandíbula para a frente, bastante eficiente para os casos de apnéia leve. A terceira opção, bastante controversa no meio médico, são as cirurgias que tiram o palato e a quarta é o uso de uma máscara que joga pressão positiva na garganta, o Cpap (Continuous Positive Airway Pression), que mantém as vias aéreas abertas durante o sono.
A melhor forma de se saber se está ou não com apnéia é fazer uma polissonografia noturna, isto é, ter o sono monitorado por profissionais. Entretanto, para os que não podem fazer o exame, o questionário clínico de Berlim, que dispõe perguntas sobre o ronco, sonolência, obesidade e hipertensão, pode ser bastante útil. “O questionário é ótimo para estudos epidemiológicos da apnéia obstrutiva do sono e para se ter uma idéia se tem ou não a doença”, afirma Lorenzi. Para obter mais informações sobre o questionário, visite o site http://www.respironics.com.