ISSN 2359-5191

19/11/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 22 - Meio Ambiente - Instituto de Pesquisas Energéticas
Pesquisadora desenvolve sistema de tratamento de efluentes

São Paulo (AUN - USP) - Adsorção. Segundo o Novo Dicionário Aurélio, esta palavra corresponde ao processo pelo qual ocorre a “fixação das moléculas de uma substância na superfície de outra”. Com base nesta lógica, a pesquisadora Denise Alves Fungaro, do Centro de Química e Meio Ambiente (Cqma) do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), realiza estudos para desenvolver um sistema de tratamento de rejeitos líquidos (efluentes) de uma usina termoelétrica.

O projeto é resultado de uma parceria com a Usina Termoelétrica de Figueira, situada no município de mesmo nome do Norte do Paraná. Tudo começou quando a usina cedeu amostras de cinzas de carvão para uma pesquisa similar a essa, da bolsista de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Juliana de Carvalho Izidoro, orientanda de Denise. O trabalho, que conquistou o 2º lugar na categoria estudante do Prêmio Jovem Cientista deste ano (veja matéria anterior), consistia no tratamento de efluentes industriais com alta concentração de metais a partir de zeólita, um composto químico geralmente em pó capaz de adsorver esses metais, cuja matéria-prima principal são aquelas cinzas.

Dada a eficácia do processo, a usina propôs uma parceria com o Ipen para o desenvolvimento de um sistema de tratamento para seus efluentes. "Eles têm interesse porque as leis ambientais estão cada vez mais rígidas”, diz Denise. Segundo ela, há dois tipos distintos de rejeitos líquidos na usina: um é a água ácida da mina, oriunda do processo de extração de carvão, e outro é água da pilha de rejeitos, a qual é constituída por materiais separados do carvão para que ele possa ser utilizado na geração de energia. Entre esses rejeitos, está a pirita, composta de principalmente de enxofre e ferro. Se estiverem expostos ao ambiente, a chuva forma uma lagoa, cuja água, assim como a da mina, é contaminada por metais, e precisa ser tratada antes de escoada para a rede de esgoto ou algum curso d’água.

As pesquisas, que estão sendo realizadas com a colaboração de Juliana, consistem na análise de dois tipos de cinzas reunidas em amostragens coletadas de dois em dois meses durante um ano, totalizando seis lotes diferentes. Cada tipo de cinza corresponde a um filtro situado na chaminé de exaustão da caldeira onde ocorre a queima de carvão. O primeiro deles, o ciclone, retém as partículas de cinza maiores, enquanto o manga, as menores. Por isso, Denise suspeita que o último tipo origine uma zeólita de melhor qualidade: quanto menores suas partículas, de maneira mais fácil ocorre a adsorção de metais.

Até o momento, quatro lotes de amostras foram analisados, restando dois. "Depois de comparar todos esses lotes, nós vamos escolher a melhor zeólita, aquela que retiver melhor os metais”, diz ela. Escolhida a melhor zeólita, serão iniciados os trabalhos com os efluentes no laboratório. Antes, no entanto, serão determinados quais metais encontram-se numa concentração acima da permitida por lei. Denise suspeita que sejam arsênio e zinco, pois as cinzas analisadas até agora possuem altas quantidades deles. Assim, por também virem do carvão, os rejeitos que originam os efluentes devem conter os dois elementos. “Nós temos que tratar os metais que estiverem em nível acima do permitido pela legislação", diz. A água tratada pode ser reaproveitada em processos industriais. Mas, de acordo com Denise, a intenção inicial da usina é dar outro destino para ela. No entanto, ressalta que tudo depende dos experimentos de campo, que devem ocorrer apenas em 2005.

Se o destino da água tratada ainda é incerto, o da zeólita utilizada no processo de tratamento já está definido: depois que estiver saturada, ou seja, não mais conseguir adsorver metais, ela seguirá para um aterro controlado. Atualmente, se expostas ao ambiente, as cinzas de carvão das quais esse material é feito têm algumas partículas metálicas, que, arrastadas pelas águas das chuvas, contaminam solos e ambientes aquáticos, inclusive lençóis freáticos. Assim, a própria conversão de cinzas em zeólita já é uma ação com vistas a reduzir os impactos de uma atividade industrial na natureza, que se completa com o tratamento de efluentes. O meio ambiente sai lucrando em dobro.

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