ISSN 2359-5191

08/11/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 107 - Economia e Política - Instituto de Relações Internacionais
“Pela primeira vez, tornou-se economicamente vantajoso reduzir a pobreza”, afirma economista Otaviano Canuto
Vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico fala sobre as novas “locomotivas” da economia global em tempos de crise

São Paulo (AUN - USP) - O “abalo sísmico” que chacoalhou as maiores economias mundiais desde o estouro da bolha em 2008 impôs uma nova configuração de poder e influência econômica na ordem mundial. EUA e Europa voltaram-se para os países emergentes, principalmente Brasil, China e Índia, para pedir ajuda financeira e auxílio em políticas de austeridade fiscal.

O economista Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico (Prem), acredita que neste período de “revolução na economia mundial” novos países surgirão com maior peso no cenário econômico e na repartição do PIB mundial. “Não se pode esperar que seja um movimento linear e tranqüilo”, avisa.

Autor do livro The day after tomorrow (disponível para download no site do Banco Mundial), em que expõe sua tese a respeito das novas economias que atuarão como “locomotivas globais” para alavancar as economias em crise, Canuto vê a situação com otimismo, apesar da “perspectiva negra” que parece se delinear, segundo a mídia.

Países em crise apoiam-se cada vez mais nos emergentes devido a “blindagem” que estes apresentaram com o estouro da bolha imobiliária e quebra do banco Lehman Brothers em 2008, nos EUA. Segundo o economista, a tendência de crescimento dos países em desenvolvimento é ascendente, enquanto a dos desenvolvidos é descendente. Com a crise, estes dados revelam que o potencial de crescimento dos desenvolvidos era menor do que se esperava e está interligado com o progresso dos emergentes.

As grandes economias como EUA, França, Alemanha e Japão ainda apresentam maior parcela de consumo mundial, portanto seria equivocado acreditar que os países em desenvolvimento poderiam “salvar” aqueles em crise. Entretanto, o professor de economia do IRI, Jacques Marcovitch, aponta que o “rigor no controle do sistema financeiro e as políticas anticíclicas - que preservam o consumo dos segmentos de menor renda”, empregadas nos países emergentes durante a crise, “constituem os elementos de novos modelos de gestão econômica e monetária” a serem seguidos. Estas políticas anticíclicas também permitiram aos países em desenvolvimento diminuírem a dívida pública, explica Canuto.

Outro fator para a elevação de países emergentes a um papel de destaque na economia mundial é o seu potencial de “catching up tecnológico” aliado ao inédito momento em que a redução da pobreza é economicamente vantajosa. Devido ao “hiato tecnológico” dos emergentes, os países têm um grande potencial de crescimento neste setor devido à disponibilidade de recursos e mão de obra. A facilidade na transferência de tecnologia e a fragmentação do processo de produção, segundo o vice-presidente do Prem, permitem aos países emergentes desenvolverem tecnologia própria e mais barata.

Com isso, a aproximação do comércio sul-sul e integração comercial entre países próximos, além de impulsionarem a economia, inclusive das nações menores que não podem se auto-sustentar, diminuem os índices de pobreza (números vêm caindo desde 1981, segundo dados do Bird).

Dentro deste panorama, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul têm papel de destaque na resolução do problema da crise mundial. Os chamados Brics já manifestaram a disposição “em ajudar as economias em crise fortalecendo o sistema multilateral e emprestando parte das suas reservas ao FMI (Fundo Monetário Internacional)”, explicou o professor Marcovitch.

Para o economista do Banco Mundial, não se pode dizer ao certo qual será a perspectiva para os países europeus e EUA. A transição mais provável, porém, será esta mudança de “peso” das economias, na qual os emergentes terão destaque. Ele alerta para a fase de “aprendizagem” que terão de passar para lidar com este novo papel, uma vez que existe um “risco de complacência”, em que países como o Brasil “deitam-se nos louros e contentam-se com isso”.

Impasse
A reconfiguração do protagonismo econômico mundial pode trazer complicações nas relações internacionais. Espanha e Portugal pedem ajuda à América Latina. França e Itália procuram estreitar laços econômicos com a China, país com maior reserva de moeda estrangeira, no valor de US$ 3,2 trilhões. Entretanto, dentro dos países, o pedido de resgate à China não é bem visto por políticos e população. Segundo a BBC, a ajuda da China é vista como uma ingerência que pode afetar a soberania do país. "A ajuda da China significa uma perda de independência para a Europa. Sermos obrigados a proclamar ao mundo que vamos recorrer à China para nos reequilibrarmos significa que teremos menos armas para negociar assuntos cruciais com esse país", disse François Bayrou, presidente do partido centrista MoDem, em matéria publicada pela emissora britânica.

Reunidos em Cannes para a cúpula do G20, as 20 maiores economias do planeta aprofundariam a discussão a respeito da ajuda dos emergentes. A presidente Dilma Rousseff declarou nesta quinta-feira (3) que o Brasil estaria pronto para ajudar os países em crise via reservas internacionais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e coordena ações com os outros integrantes do Bric para estudar possibilidades. Ressaltou, porém, que antes querem saber quais serão as medidas adotadas nos pacotes de austeridade econômica. A maior preocupação do evento, no entanto, é a crise na Grécia e como esta pode afetar as economias vizinhas. No último dia 27 de outubro, o presidente da França, Nicolas Sarkozy e a premiê da Alemanha, Angela Merkel, articularam junto aos bancos internacionais o perdão de 50% da dívida grega, parte do plano de resgate do país e reforço do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FESF), no qual a China poderia investir entre 50 e 100 bilhões de euros. Os ânimos se exaltaram quando primeiro-ministro grego, George Papandreou,convocou um referendo para consultar a população.

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