São Paulo (AUN - USP) - Você bebe um suco gelado e sente dor nos dentes. É comum relacionar o fato à existência de uma cárie. Ana Cecília Corrêa Aranha, professora do departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO/USP), explica que essa é uma confusão recorrente feita pelos pacientes. Na verdade, a dor, na maioria das vezes, é causada por uma hipersensibilidade dentinária. Segundo a professora, em palestra realizada durante o Congresso Universitário Brasileiro de Odontologia (Cubo), a doença tem atingido um número crescente de pessoas, principalmente por conta de mudanças nos hábitos alimentares e do aumento da expectativa de vida da população.
Causas freqüentes
De acordo com dados do último censo divulgado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida da população é de 73,1 anos. Em 1980, esse valor era 10,6 anos menor. A professora explica que esse crescimento, aliado à maior preocupação com hábitos de higiene bucal, faz com que as pessoas envelheçam com cada vez mais dentes. “É natural que cresça o número de pacientes com hipersensibilidade, principalmente por conta do desgaste natural com a idade”, aponta. O problema é que o excesso de práticas vistas como saudáveis pela população tem acelerado o processo de erosão do esmalte. Os cremes dentais usados para clareamento são vilões, pois acabam retirando o esmalte para remover o tom amarelado da superfície dental.
Outro problema atual é o excesso de produtos ácidos na alimentação das pessoas. A professora explica que alimentos com pH abaixo de 5 já são prejudiciais. Um suco natural de laranja, por exemplo, tem pH de 3,7. Refrigerantes costumam ser ainda mais agressivos, com pH em torno de 2,9. Os casos de sensibilidade têm atingido cada vez mais crianças devido ao costume de colocar na lancheira sucos industrializados. Ao desenvolver a sensibilidade nessa idade, a criança corre o risco de precisar de intervenções mais sérias ainda jovem. Para evitar isso, Ana Cecília aconselha que os pais estimulem o consumo de alimentos com menor potencial ácido, como a água de coco. “Se não puder evitar o produto industrializado, o melhor é que seja ingerido com um canudo para evitar o contato direto com os dentes”, conta.
O caminho da dor
A professora explica que a sensibilidade no dentes é causada pela corrosão do esmalte, tecido que envolve a dentina. Nessa área do dente são encontrados os túbulos, espécies de “poros” que se comunicam com a polpa. Com o desgaste, informações como frio demais, excesso de açúcar, ou presença de ácidos são passadas para a parte nervosa do dente, encontrada na polpa, e isso gera o desconforto. O principal tratamento praticado pelos dentistas é a aplicação de flúor. Ana Cecília explica que essa medida é temporária e não resolve o problema. “A gente fala que se casa com os pacientes, já que eles sempre voltam para o consultório”, brinca. Com o tempo, se a pessoa mantiver os mesmos hábitos alimentares e de escovação – como pressionar muito a escova –, a dentina ficará novamente exposta. Para a professora, “o tratamento requer paciência, disposição para mudanças de rotina e não se resolve apenas com a ida ao dentista”.