São Paulo (AUN - USP) - A lei que regulamenta o setor de TV paga no país, sancionada pelo governo federal em setembro, foi o cerne de um seminário promovido pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA) na última quinta-feira (24). Visando incentivar a oferta de pacotes integrados de telefonia, banda larga e TV paga a preços reduzidos, a lei também deverá ampliar o mercado com a abertura ao capital estrangeiro às empresas de mídia. Para discutir os impactos que a entrada de capital externo poderá acarretar, foram convidados o empresário de comunicação Antônio Rosa Neto e o jornalista James Akel.
O professor Celso Cláudio de Hildebrand, mediador do seminário, concluiu que a lei deverá promover uma “revolução do domínio de mídia, fragmentando o mercado em novos canais e possibilitando a melhoria da televisão brasileira”. Rosa Neto também divide dessa opinião. Ele aponta que o Brasil – já grande consumidor de mídia em suas diversas formas – segue como um mercado muito promissor para o segmento. Por isso, acredita que o cenário de empresas de mídia fechadas e totalmente nacionais deverá “caducar”, seja pela globalização ou pelo advento de novas tecnologias.
Quanto aos impactos à sociedade, o empresário ressalta que um “mercado restrito não traz benefícios”. Assim, a abertura ao capital estrangeiro tornaria as empresas menos reféns da gestão do governo. Para exemplificar, faz um paralelo com o caso da presidente argentina Cristina Kischner, acusada de tentar cercear a liberdade de expressões dos jornais Clarín e La Nación, principais periódicos do país.
James Akel, por sua vez, possui uma visão bem contrária a de Antônio Rosa Neto. Para o jornalista, a nova lei não provocará grandes mudanças estruturais, já que, na prática, essa abertura ao capital estrangeiro já existe – basta que haja consentimento do governo. “Como levar a sério um mercado de comunicação que é orquestrado pelo governo?”, questiona. Um exemplo seria a fundação da emissora Globo em 1965, com a “benção da Ditadura Militar”. Segundo ele, Roberto Marinho teria firmado um acordo com o grupo americano Time-Life, que teria financiado todo o processo de estruturação da Globo.
Akel também comenta outra intervenção do governo nas empresas midiáticas: o caso da emissora Record. O jornalista conta que os donos da Record, Paulo Machado de Carvalho e Silvio Santos, viviam em desacordo quanto aos rumos da emissora. Por isso, foi criada a figura de concialiador, que teria também o poder de decidir sobre os conteúdos da Record. Esse cargo foi confiado a Laudo Natel, empresário e político. Natel, que foi por duas vezes governador de São Paulo durante a ditadura militar, não tinha nenhuma experiência ou relação com a área da comunicação, o que, para Akel, evidencia como o governo tem poder de influência sobre a mídia nacional.
O jornalista reconhece o poder de influência que as grandes empresas midiáticas possam ter sobre a sociedade e o governo. Entretanto, defende que elas também servem de “joguete” político, quando convém ao governo. Além disso, ressalta o endividamento dessas empresas com o governo – não apenas no âmbito financeiro, já que muitas receberam apoio política para serem fundadas. “Sim, a Globo é perigosíssima, mas possui uma dívida muito mais perigosa que ela própria”. “A liberdade de imprensa vai até onde o bolso não é afetado”, conclui.