ISSN 2359-5191

30/11/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 112 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Papel do psicólogo na África do Sul é tema de seminário

São Paulo (AUN - USP) - No final de outubro, foi realizada uma palestra no Instituto de Psicologia (IP) da USP que teve como tema Psicologia, colonialismo e legados de Lingering Race: uma visão da África do Sul. Ela foi oferecida pelo Departamento de Psicologia Clínica como a primeira parte de um seminário intitulado Psicanálise e Psicologia Crítica e Política: a Relevância de Fanon e Bion, organizado pela professora Miriam Debieux Rosa. Desmond Painter, da Stellenbosch University (Cidade do Cabo), foi convidado para ministrar três das cinco palestras previstas para o seminário e esteve à frente da primeira delas.

Painter contextualizou a atual sociedade sul-africana e, a partir disso, trouxe reflexões sobre a atuação do psicólogo no país. “Os diversos problemas sociais enfrentados pela África do Sul têm uma grande influência na vida profissional dos psicólogos, uma vez que eles desafiam a maneira como eles entendem a disciplina e a profissão”, explica o professor. Segundo ele, os quatro principais temas que atravessam o cotidiano de seus conterrâneos e que trazem conseqüências para a psicologia são o racismo, a sexualidade conflituosa, a desigualdade social e a homofobia.

Para Painter, os problemas sociais que existem em seu país devem ser levados em conta pelos psicólogos. “Devemos nos perguntar quais teorias e que tipo de intervenção é relevante no nosso contexto social e também até que ponto o modelo de terapia individual norte-americano pode ser aplicado em um contexto de extrema pobreza e de exclusão social”, comenta.

Apesar de o apartheid ter acabado em 1994, o racismo ainda é muito presente no dia-a-dia. Há 11 línguas oficiais e 79% da população é negra. Entretanto, os brancos ainda representam a camada mais rica da população e o inglês é a língua de maior prestígio, apesar de ser a primeira língua de pouco mais de 8% da população. “Para o psicólogo ajudar a reverter a situação, ele precisa sair da clínica e ser também um ativista; infelizmente, isso é raro, o que contribui para que a psicologia continue funcionando a serviço de uma burguesia influente”.

Além dos problemas relacionados às diferenças entre brancos e negros, o país enfrenta ainda muitas outras questões sociais severas. A África do Sul é o país com maior número de mortes por armas de fogo no mundo (só nos últimos dois anos, cerca de 16 mil pessoas faleceram por conta desse mal). Quase um quinto da população possui o vírus da aids. Além disso, em 2000, mais de 67 mil casos de violência sexual contra bebês e crianças foram registrados no país, mostrando a precariedade da proteção dos direitos das crianças.

Dentro desse contexto, o professor da Stellenbosch University utiliza a psicologia crítica para analisar o contexto sul-africano. “A psicologia crítica significa duas coisas. Primeiro, a crítica da psicologia, ou seja, entender como a psicologia se tornou envolvida com domínio colonial, racismo, sexismo e homofobia”, esclarece. “Em segundo lugar, ela diz respeito às teorias críticas trazidas à tona por teóricos como Foucault, freudo-marxistas, analistas do discurso, entre outras”.

A palestra do dia 25 contou com a participação de um público diversificado, que incluía pessoas não-vinculadas à USP. A palestra do dia seguinte (dia 26) teve como título Psicologias do Sul: Biko, Consciência Negra e o desafio de psicologias indígenas, que explorou o trabalho de Steve Biko, ativista anti-apartheid morto em 1977. Ele defendia que a liberação da África do Sul dependia não apenas de transformações econômicas e sociais, mas também de mudanças psicológicas. Biko acreditava que os negros haviam internalizado um complexo de inferioridade que precisaria ser combatido para que a verdadeira mudança pudesse ocorrer.

De maneira geral, o sentido do Seminário é destacar que não se pode entender as possibilidades de atuação do psicólogo fora do contexto social no qual ele está inserido. "O sistema de saúde na África do Sul ainda é altamente privatizado e as pessoas têm muito pouco acesso a tratamento psicológico por meio de serviços estatais”, complementa Painter. “Além disso, o tipo de ajuda psicológica oferecida pelo governo não é necessariamente relevante para os problemas que as camadas menos favorecidas da população enfrentam”.

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