São Paulo (AUN - USP) - Todos os anos, a equipe do projeto Bandeira Científica parte para alguma cidade no interior do Brasil para realizar atividades relacionadas a saúde e meio ambiente. A última expedição da equipe, formada por alunos da área de saúde, administração e comunicação, foi realizada em Belterra, na região Oeste do Pará. Agora, dois meses após os atendimentos, a equipe volta se reunir para discutir o acúmulo do projeto, bem como pensar novas estratégias para a próxima expedição.
“Esse balanço é muito importante para que a gente possa fazer uma análise de nossas ações em relação a cidade. Não dá para manter, por exemplo, o mesmo tipo de atendimento em todas as expedições, porque cada cidade possui suas necessidades específicas”, comenta Bruna Lanzaro, do terceiro ano de Medicina.
O Projeto Bandeira Científica surgiu na Faculdade de Medicina da USP, mas hoje abrange algumas outras áreas do conhecimento. A princípio, os alunos da graduação promoviam expedições tutelados por um professor, afim de coletar dados para pesquisa. Interrompido durante a ditadura militar, o projeto foi retomado na década de 90 e adquiriu um caráter assistencial. Aos poucos, graduandos de outras áreas da saúde de integraram ao projeto e, mais adiante, o Bandeira foi aberto à FEA, à ECA e à Poli.
O “encontro de balanço”, como é chamado pelos diretores do projeto, é dividido em três etapas: na primeira, as pessoas fazem uma roda de discussão onde trazem todas as experiências vividas durante a expedição, desde o contato com a cultura local bem como algumas surpresas que tiveram durante dez dias de expedição. Em seguida, cada área se divide e faz um balanço da sua atuação, discutindo principalmente as suas falhas e destacando o que não pode ser repetido. Posteriormente, as áreas se encontram novamente e compartilham o seu balanço, para pensar em novas estratégias que integrem o atendimento e as atividades, e permitam aos próximos alunos que integrarão o projeto ter uma vivência com menos equívocos.
“A gente precisa sempre pensar no que vai fazer para a cidade que será visitada muito tempo antes da expedição. Em Belterra, por exemplo, a questão das comunidades ribeirinhas era um ponto muito complicado e que a gente não sabia como resolver”, comenta Cássio Yaganaka, do 4º ano de Medicina. Durante a última expedição, a equipe se deu conta de que a maior parte da população local não tinha como se locomover até o centro da cidade, onde eram realizados os atendimentos, por conta dos rios que cortavam Belterra. Apesar da fraca infraestrutura de saúde que a cidade possuía, já havia sido implementado na região o barco Abaré, a dita “primeira unidade de saúde fluvial da Amazônia”, que promove atendimentos médicos para tais comunidades. “O Bandeira então fez uma parceria com a equipe do barco Abaré, o que resultou num grande incremento a quantidade de médicos disponíveis para o atendimento. Isso trouxe uma lição para a gente: as parcerias com os projetos locais, bem como ONGs e associações são sempre importantíssimas”, alega o estudante.
Outra questão que foi bastante repercutida foi o caráter das atividades da FEA. O grupo de estudantes de administração, além de cuidar da logística da expedição, promoveu também atividades relacionadas a educação financeira. “Percebemos que para algumas realidades não faz sentido falar em investimento, poupança... No caso de Belterra, por exemplo, existe apenas um banco na cidade, localizado na área urbana. A população rural, ou mesmo a população ribeirinha, não entendia muito bem da realidade sobre a qual a gente discutia.”, diz Ingrid Navarro, aluna de Administração que já participa do Bandeira há três anos.
Esse processo de autocrítica e balanço nem sempre é agradável, mas sem ele o projeto não poderia ir a frente. “A gente está lidando com uma série de coisas que nos impulsionam a deixar o ego de lado e assumir os nossos erros, para sempre que possível fazer melhor na próxima expedição. O fato de levarmos o nome da USP com a gente, e de estarmos propondo melhorias para uma população de baixa renda na maioria das vezes é decisivo na hora da gente repensar nossas ações”, diz Bruna.