ISSN 2359-5191

27/02/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 16 - Ciência e Tecnologia - Universidade de São Paulo
Coletivo Caieras apresenta nova montagem da obra de Tchéckov

São Paulo (AUN - USP) - “Ela ama o teatro, e lhe parece que, com isso, presta grande serviço à humanidade, à arte sagrada, mas para mim o teatro contemporâneo não passa de rotina e superstição”. É com essa frase, localizada no começo do segundo ato de A gaivota, que o coletivo Caieiras, originário do Departamento de Artes Cênicas da ECA (CAC) decidiu iniciar sua releitura da obra de Tchéckov.

“O desmonte da obra serviu para que a gente pudesse relativizar os personagens e dar um destaque maior para o texto de Tchéckov”, conta Mariana Arantes, ex-aluna de Artes Cênicas e uma das fundadoras do coletivo Caieras. A obra do escritor russo é considerada um clássico do teatro e é constantemente estudada no CAC sob a perspectiva de construção de personagens, em disciplinas como Atuação e Teoria do Teatro. Apesar disso, o trabalho de Tchéckov poucas vezes é analisado dramaturgicamente.

O coletivo Caieras, formado por alunos e ex-alunos do Departamento, surgiu após um trabalho realizado em cima do famoso texto de Tchéckov, Tio Vânia”. A peça, que retrata as angústias do tio solteiro e agregado de uma família russa burguesa, era ponto de partida para exercícios de atuação propostos em sala de aula, durante a graduação. Esse, entre outros motivos, deu a Mariana, na época ainda aluna da graduação, a vontade de trabalhar em cima da poesia dos textos teatrais, muitas vezes deixadas de lado diante da cenografia, da iluminação ou do trabalho do próprio ator. “A gente sente que é preciso resgatar uma tradição do teatro de oralidade, de contação de histórias. O teatro antigo era feito sempre por homens e com poucos recursos de cenário, mas com textos muito completos, poéticos, ou muito calcados em um determinada realidade”, conta ela. A exemplo do teatro grego, que servia sempre para propor uma discussão acerca dos preceitos morais ou da política da época, ou ainda para registrar a história usando a façanha de alguns heróis.

A gaivota
Diante desse desejo comum do grupo de explorar a poesia dramaturgica, Mariana e seus colegas passaram alguns meses pesquisando diversos autores. Chegaram a abandonar os autores de teatro e abriram sua pesquisa para a literatura.”A gente percebeu que talvez fosse necessário ir na raíz do texto literário. Fomos beber na fonte de T.S.Elliot, Ezra Pound, passamos ainda por poetas mais recentes como Sylvia Plath. Ai um dia, em uma das reuniões, a Lívia (Lívia Furtado, outra integrante do grupo) chegou com um livro do Tchéckov, e a gente percebeu que poderia ser uma boa pedida”.

Apesar de já terem intimidade com Tio Vânia, Mariana e o grupo optarem por trabalhar com um novo texto. Em A gaivota, Tchéckov propõe uma discussão metalinguistica sobre o teatro: mostra a decadência de Arkádina, uma atriz veterana que encara a arte como uma prática intocável e o surgimento de Nina, uma atriz jovem, que busca o teatro para se libertar das amarras sociais e da família. A gaivota, animal símbolo da liberdade, é alvejada no texto por Trepliév, filho da primeira e namorado da segunda.

“O que nos chamou atenção nesse texto, é a maneira como o próprio Tchéckov dialoga com a nossa vontade de fazer teatro. Ele deixa claro, por meio da ótica de Trepliév, que o teatro havia se tornado uma grande rotina depois que foi cooptado totalmente para o entretenimento”, alega Mariana. Por isso, durante os ensaios, o grupo optou por dar destaque a frase dita pelo personagem onde ele faz essa crítica ao teatro moderno, colocando-a logo de início na apresentação.

Além dessa perspectiva de montagem, onde o texto tornou-se mais fluído, outro fator curíoso da montagem do coletivo Caieras foi a ausência total de figurino. Todos os atores usam batas e camisetas, em nada ligadas a vestimenta da época. Os personagens em si não existem formalmente – prevalece o texto, que é recitado por diversos atores independente de quem o diz na dramaturgia original. “Essa foi nossa maneira de privilegiar a mensagem de Tchéckov – não nos importa muito quem fala, mas sim o que está sendo falado”, argumenta a atriz.

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