ISSN 2359-5191

31/03/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 01 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Redução da taxa de juros é insuficiente para o país crescer

São Paulo (AUN - USP) - Depois de dois meses sem alteração, o Copom, Comitê de Política Monetária do Governo Federal, reduziu em 0,25% a taxa básica de juros, que ficou em 16,25% ao ano. Segundo a Ata publicada pelo comitê no último dia 25 de março o risco de uma maior inflação havia reduzido, permitindo conseqüentemente a pequena queda na taxa Selic.

O patamar da taxa básica de juros brasileira é algo que suscita freqüentes embates e discussões. Para muitos políticos e economistas são os elevados juros os responsáveis pelo baixo crescimento da economia brasileira, que apresentou crescimento negativo de 0,2% no ano de 2003 em relação a 2002, surpreendendo a equipe econômica e até mesmo seus opositores, que acusaram o Governo de ser demasiadamente ortodoxo na política econômica.

Para o professor Eliezer Martins Diniz, responsável pela disciplina “Crescimento Econômico” na pós-graduação do Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, a equipe econômica quer ser vista como competente e conservadora. Segundo ele, uma cautela na redução de juros é necessária: “prefiro sem um pouco conservador; melhor manter o que já conquistamos e não arriscar tanto do que arriscar e ter perdas econômicas e de reputação”.

Em palestra a um grupo de investidores em março no Hotel Unique em São Paulo, o professor e deputado federal Antonio Delfim Neto minimizou a importância dos juros no crescimento do país: “atualmente são mais importantes a facilitação de obtenção de crédito e redução da tributação, que hoje pega quase 40% do lucro das empresas”. O deputado disse ainda que o que atrai investimento externo não é estabilidade econômica, e sim o crescimento do país, citando como exemplo a China.

Embora com a ressalva de que a taxa de juros é importante e não deve ser menosprezada, o professor Eliezer concorda que na atual conjuntura a redução dos impostos às empresas surtiria efeito mais significativo na economia brasileira. Eliezer afirma ainda que em longo prazo, investimentos estrangeiros, importante fator no crescimento do país, virão para o Brasil se tivermos uma menor presença do Estado, menos corrupção, proteção à propriedade intelectual e respeito aos contratos. Segundo o professor, estabilidade política é importante: “Não se investe onde há instabilidade, veja o caso da Colômbia e da Venezuela. Com relação à China o que há é falta de abertura política, não instabilidade”.

Carlos Eduardo Gonçalves, professor de “Economia Política” na FEA-USP, explica que a taxa de juros de curto prazo é importante no longo prazo, e não surte efeito de forma imediata: “a taxa de juros vai se refletir no crescimento do PIB cerca de seis meses depois de reduzida”. Ele sinaliza ainda que para o crescimento do país três variáveis têm de ser satisfeitas: estabilidade macroeconômica, finanças públicas em ordem e um marco regulatório eficiente. Sobre a China o professor Carlos Eduardo diz que a história mostra que o crescimento em média é indiferente ao regime político, e acrescenta: “eles crescem muito porque são muito pobres; a renda per capita da China ainda é um terço da brasileira”.

No entanto, os dois professores concordam com relação ao aspecto fundamental para o crescimento futuro do Brasil: educação. “É a melhor solução para crescimento de médio e longo prazo e para redistribuição de renda, já que permite a mobilidade social do indivíduo”, diz o professor Elizer. O professor Carlos Eduardo complementa: “o capital humano é a chave: o ensino atenua a desigualdade de renda e impacta fortemente o crescimento econômico do país”.

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