São Paulo (AUN - USP)- Em palestra recente realizada na FAU Maranhão, a Professora Doutora Ascensión Hernández Martínez, do Departamento de História da Arte da Universidade de Zaragoza apresentou aos alunos presentes o panorama das técnicas de restauro atualmente usadas nos principais monumentos do país, levando em consideração a grande bagagem histórica da Espanha em termos arquitetônicos.
A questão do restauro está em grande pauta hoje em dia, instigando a pergunta “até onde a restauração pode interferir na obra?” Sob esse aspecto, Ascensión apresentou alguns exemplos de processos de restauro realizados e os aspectos históricos e sociais que rondavam as construções.
O Teatro Romano de Cartagena foi submetido a uma restauração integral, segundo a professora, a obra mais polêmica feita nas últimas duas décadas na Espanha, recuperando a zona ao redor do teatro e tornando-se, assim, um projeto social também. Houve uma adequação do entorno, a restauração do teatro e construção de um museu.
No século 19 o teatro era uma ruína. Em 1993 foi liberada a construção de um novo teatro em cima do teatro romano, o que gerou grande alvoroço e, por fim, a decisão foi parar nos tribunais. Assim, na reconstrução foi feito um projeto que interliga a Catedral, o teatro e o jardim com elementos retiráveis.
O projeto da Catedral de Tarazona durou 14 anos e também contou com a restauração integral do edifício por uma série de problemas, sobretudo estruturais, que ele apresentava. A Igreja foi vítima de varias restaurações errôneas ao decorrer dos anos, por esse motivo, apresentava uma construção de início gótica e uma estrutura prestes a cair. Coube aos arquitetos responsáveis pela obra, a tarefa de mexer no edifício inteiramente sem deixá-lo desabar e realçando novamente suas características originais.
Na Vila Romana de Olmeda, um palacete romano com 31 quartos de arquitetura espetacular, foi construída uma cobertura de proteção com estrutura de aço que manteve a integridade do prédio. A escolha do projeto de Pedrosa de la Veja e dos arquitetos envolvidos nele foi feito por meio de um concurso público e o espaço se tornou um museu de restos arqueológicos.
Por fim, Ascensíon comentou sobre a restauração de um patrimônio mundial e obra inacabada do mais famoso arquiteto espanhol, Gaudí. O Templo da Sagrada Família ainda está com seu processo de restauração em andamento.
Esse processo se iniciou em 1985 e levantou questões complicadas: É possível continuar o projeto? Ainda é uma obra desse ícone espanhol? Pois Gaudí era um arquiteto experimentalista, que não seguia exatamente os planejamentos e se caracterizava pelas inovações.
Em 1936, dez anos após a morte de Gaudí, houve um incêndio na sacristia e todos os planos do arquiteto, lá arquivados até o momento, se perderam. Nos anos 50 ergueram as pilastras do prédio, mas logo em seguida, nos anos 60, ocorreram diversos protestos para que não tocassem mais na obras de Gaudí.
A restauração se reiniciou atualmente na Espanha por desejo da Igreja Católica que sofre a perda de fiéis devido à crescente laicização do país e deseja tornar a todos novamente cristãos utilizando a fama de Gaudí. Porém a professora deixa uma pergunta, que assola a população e as principais rodas de arquitetos da Espanha, no ar: A espetacularidade do edifício finalizado justifica mexer na obra do arquiteto espanhol?