São Paulo (AUN - USP)- Em trabalho realizado na pós-graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Lilian Alves Sampaio procurou “refletir sobre uma prática cultural amada e socialmente valorizada: a música popular”, segundo relata a própria autora.
Lilian realizou seu mestrado sobre o Programa do Ratinho, abordando o desprazer e desconforto que o programa televisivo causava em certos segmentos sociais, principalmente dos mais intelectuais e elitizados, ao passo que causava riso e divertimento para as camadas mais baixas da população. No doutorado, a pesquisadora procurou ir pelo viés contrário, analisando algo valorizado dentro da cultura nacional, por praticamente todos os segmentos.
Intitulado “Vaidade e Ressentimentos dos músicos populares e o universo musical do Rio de Janeiro do início do século XX”, o trabalho tem como ponto de partida o começo do século passado por ser o momento, segundo a autora, onde começam a surgir os primeiros compositores e músicos profissionais fora dos teatros – ambiente até então restrito à música erudita, clássica e elitista.
Reconhecimento comercial e crítico
Uma questão central deste doutorado foi a questão do reconhecimento comercial e do artístico. A autora explica que “hoje, o reconhecimento comercial figura em um polo diferente do reconhecimento artístico e estrutura o espaço de produção da música popular nacional.” Uma música comercial sempre atinge um povo maior, a ''massa'', enquanto que a música artística sempre terá um público mais restrito.
A música que Lilian estuda em sua pesquisa é totalmente comercial e profana para a época, e que posteriormente vai sendo acrescentado o valor cultural nesta música – mais ainda não o valor artístico. “O reconhecimento pelos agentes da cultura legítima vem depois. Aos poucos, alguns intelectuais, escritores, políticos, músicos concertistas etc., imbuídos do desejo de construção de uma identidade nacional brasileira, vão se interessando por essa música profana”, relata a autora.
Por isso, a atividade de músico popular nesse período era ambíguo, pois enquanto a atividade era menosprezada pela elite brasileira – e principalmente carioca – acostumada aos valores musicais tradicionais europeus, a população via-se mais próxima de tais artistas e agregavam a música popular ao seu cotidiano. Isso porque, a música era praticada em diversos espaços comerciais, privados ou mesmo nas ruas, mas não em salas de concerto ou nos conservatórios, o que era distante da maioria das pessoas.
Discutindo a vaidade dos músicos da época, Lilian comenta que é “curiosa e inesperada a vaidade exacerbada expressa por alguns músicos”, pois grande parte dos artistas se sentiam até inferiorizados pelo tratamento dado por escritores e jornalistas.”Se os escritores viam esses músicos como pouco importantes e socialmente inferiores provavelmente os próprios músicos se sentiam assim.” completa a pesquisadora.
Músicos de destaque
Para complementar seu trabalho, Lilian Alves Sampaio elegeu, ao longo de suas pesquisas, seis músicos de destaque no período estudado. Segundo ela “o que definiu a escolha desses músicos não foram os seus feitos”, mas, sim, pelos registros feitos por escritores, jornalistas e letrados sobre esses artistas, ou seja, “aqueles escolhidos pelos homens de letras”, afirma Lilian. Os músicos foram: Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Eduardo das Neves, Catullo da Paixão Cearense, Sinhô e Pixinguinha.