São Paulo (AUN - USP) - Em tempos de ameaças de racionamento de água na cidade de São Paulo, iniciativas que proponham uma melhor utilização da água disponível são sempre bem vindas. É exatamente disso que trata o projeto de uma pesquisadora da Escola Politécnica da USP.
Simone May, aluna de mestrado do Laboratório de Sistemas Prediais (LSP), do Departamento de Construção Civil (PCC), desenvolveu sua dissertação “Estudo da viabilidade do aproveitamento de água de chuva para consumo não potável em edificações”, com orientação do professor Racine Tadeu Araújo Prado. O projeto recebeu uma verba de cerca de 100 mil reais da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Segundo May, antes de iniciar a utilização da água da chuva em atividades que não necessitem de água potável, era preciso estudar a qualidade desta água e a viabilidade econômica deste sistema.
Para realizar esta pesquisa, foi desenvolvido um sistema de coleta da água de chuva por calhas no telhado. De lá, a água desce para um reservatório no solo, de onde é bombeada para um segundo reservatório, no telhado, para abastecer dois vasos sanitários. Antes da água seguir para o primeiro reservatório, são recolhidas amostras por um coletor automático. Este equipamento, que não existe no Brasil, foi projetado na Escola Politécnica e fabricado por uma empresa da área de instrumentação analítica, a Digimed. O aparelho tem um sensor de presença de chuva e coleta automaticamente amostras de água em quantidades e intervalos pré-programados pela pesquisadora. Há também, na entrada de água no primeiro reservatório, um medidor do volume que é recebido pelo sistema, mesmo não havendo condições de armazená-lo totalmente. Também há um sensor que registra a quantidade de água que sobe para o reservatório final. Este volume já chega aos 17,02 m3.
A pesquisadora analisou 28 parâmetros nessas amostras, como o pH, a concentração de ferro, cálcio, magnésio, coliformes fecais e coliformes totais. Através dessa análise, May concluiu que a água coletada nos primeiros vinte minutos de chuva apresenta grande concentração de poluentes, microorganismos e qualquer outro tipo de sujeira que possa acumular-se no telhado, por isso deve ser descartada para facilitar o tratamento.
Com os dados da experiência, foi desenvolvido um programa de computador que calcula o volume adequado do reservatório, a quantidade de água da Sabesp que será utilizada para cobrir eventuais faltas, quanto de água será descartado, os gastos. A partir dos dados de implantação, operação e manutenção do sistema, o programa também calcula a taxa de retorno e o tempo necessário para que os investimentos sejam recuperados.
As pesquisas sobre a qualidade da água e a viabilidade financeira fazem parte da primeira parte do projeto, que já foi concluída. A segunda parte, que provavelmente será o tema do mestrado da pesquisadora, consiste no tratamento da água com uma bomba automática de dosagem de cloro, que será instalada em abril.
“Que benefícios pode trazer o aproveitamento de água de chuva? Primeiro: com certeza conservaremos a água potável; haverá uma diminuição do consumo de água potável em atividades que necessariamente não precisam de água tratada”, diz a pesquisadora. Entre as atividades em que a água da chuva pode ser utilizada estão a lavagem de carros e calçadas, a irrigação de jardins e as descargas de vaso sanitário. Em construções como shoppings, indústrias e, postos de gasolina, nos quais a área de telhado para coleta de água é muito extensa e há grande utilização de água que não precisaria ser potável, esse sistema pode trazer uma grande economia. Além disso, no município de São Paulo há a lei n° 13.276/2002, que obriga as construções que possuem a partir de 500 m2 de área impermeabilizada a manterem reservatórios de água da chuva para minimizar riscos de inundações. “A questão é: se você armazena – e a parte mais cara é o reservatório – por que não utilizar essa água?”, questiona May.
Os benefícios da utilização desse sistema são muitos. “Há uma economia de água, minimiza-se os riscos de enchentes, e ainda há a possibilidade de obter lucros se o consumo for elevado e a área de captação for extensa”, explica a pesquisadora. Mas ela completa dizendo que, para a disseminação de seu projeto, é necessário uma maior divulgação (já que poucas pessoas conhecem a existência dessa alternativa) e o desenvolvimento de normas técnicas para orientar a utilização do sistema.