São Paulo (AUN - USP) - A convivência com uma mesma fêmea provoca no porquinho da índia (Cavia porcellus) um decréscimo do interesse sexual. Basta, porém, que ele seja colocado junto a uma nova fêmea para que retome a corte com maior intensidade e chegue até mesmo a tentar a monta. Estudo recente, desenvolvido no Instituto de Psicologia (IP) da USP, avaliou a influência da novidade da fêmea no comportamento de corte das cobaias.
Quatro machos e quatro fêmeas adultos, provenientes do Departamento de Psicologia Experimental da USP, foram utilizados na pesquisa. O estudo, desenvolvido pelo professor César Ades, do IP, Daniel Wagner Hamada Cohn, doutorando pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zoologia da USP e pela professora Rosana Suemi Tokumaru, da Universidade Federal do Espírito Santo, será publicado ainda este ano no Brazilian Journal of Medical and Biological Research. “A pesquisa contribui para o conhecimento da cobaia, um animal com estrutura social complexa e interessante, estudada intensamente por grupos na Alemanha e nos Estados Unidos”, disse o professor Ades.
As cobaias macho cortejam continuamente as fêmeas, inclusive as grávidas. Para garantir a constância do estímulo sexual, os pesquisadores optaram pela utilização de fêmeas grávidas, já que fêmeas em outra condição poderiam engravidar durante o experimento, mudando assim seu potencial de atração. Os animais utilizados não haviam tido contato entre si antes do experimento e viviam até então em grupos familiares. Os pesquisadores formaram casais aleatórios e cada macho foi exposto à mesma fêmea durante quatro sessões diárias de 15 minutos. Na quinta sessão, a fêmea foi trocada.
Ao longo das primeiras sessões, os pesquisadores notaram que o comportamento de corte dos machos diminuía. A troca das fêmeas, porém, provocou uma recuperação do interesse sexual: todos os machos voltaram a farejar as fêmeas e três passaram a persegui-las. Um dos machos exibiu, novamente, o comportamento de monta. Quanto às fêmeas, que são normalmente mais passivas, não foram verificadas mudanças significativas de comportamento ao longo das sessões, apesar de duas delas terem reagido atacando o macho.
Os porquinhos da índia são animais poligâmicos. Observações de colônias demonstram que os machos costumam seguir a fêmea, cheirando-a e lambendo-a, antes de tentarem uma aproximação maior, que pode resultar na cópula. O reconhecimento individual e os relacionamentos sexuais, em sua maioria de longa duração, são parte importante da vida das cobaias e contribuem para a estabilidade da estrutura social.
Os resultados da pesquisa indicam, por um lado, que os machos reconhecem as características individuais das fêmeas com as quais tiveram contato e, de outro, que reagem a uma fêmea nova, com exploração e corte renovadas. “Tendo o cuidado de não extrapolar de forma simplista, estes resultados podem sugerir a existência de variáveis relevantes no comportamento sexual/amoroso do ser humano”, afirmou o professor.