São Paulo (AUN - USP) - O simples ato de lavar as mãos com água e sabão freqüentemente é a medida mais eficaz para prevenir a disseminação de doenças e a mortalidade de crianças usuárias do serviço de creche. Esta medida, combinada com a vacinação de funcionários e crianças contra, hepatite A e catapora (varicela) e influenza seria capaz de reduzir drasticamente o número de óbitos infantis nos educandários paulistas. É o que conclui a tese de Eneida S Ramos Vico, a primeira do Brasil a enfocar a questão mortalidade freqüentadoras de creches. “O mais difícil é fazer com que as pessoas mudem seus hábitos, e passem a lavar as mãos. Com as crianças é mais fácil; ensinamos desde pequenas, e elas ainda modificam os hábitos de suas casas.”, diz Eneida.
As creches atualmente são uma necessidade familiar que só tende a crescer. “Começaram a ser muito usadas depois da Revolução Industrial, na França, com a mulher fora de casa, no mercado de trabalho e ainda responsável pelos filhos.”Contextualiza Eneida, que é formada em enfermagem e especializada em saúde pública, com mestrado em epidemiologia. Em ambientes onde se concentram muitas pessoas por muitas horas, a transmissão de agentes patogênicos é maior, ainda mais se houver contato físico entre elas. Assim, também nas creches, as chances de que uma criança contraia uma doença é maior do que se ela ficasse em casa. A alta taxa de mortalidade nos primeiros três anos de vida das crianças que freqüentam as creches do município de São Paulo (78% das mortes ocorridas no período do estudo) se explica pelo fato de que nos primeiros anos de vida as crianças são especialmente vulneráveis, pois seu sistema imunológico ainda está em desenvolvimento. Especial atenção deve ser prestada às crianças no inverno e no outono, estações que concentraram 60% dos óbitos. A partir do terceiro ano de vida, a taxa de mortalidade cai muito, e há estudos que detectaram que a criança ganha maior proteção contra algumas infecções depois de seis meses de permanência na creche.
Eneida acredita nas vantagens da vivência nas creches, e dedicou 26 anos de sua vida ajudando a construir o que hoje é o Sistema Municipal de creches de São Paulo, capacitando e acompanhando o trabalho das educadoras. “Um equipamento coletivo proporciona riscos, além dos inúmeros benefícios. Traz muita coisa boa em vários aspectos, no de convivência, aprendizagem, nutrição... Muito melhor do que deixar a criança em casa, na frente da TV. O que queremos é minimizar os riscos.”. Algumas medidas já foram tomadas desde a publicação da tese, como a vacinação de todas as crianças contra uma cepa mais virulenta de catapora, que foi detectada no estudo como causadora de óbitos infantis. É um bom começo, mas a autora sinaliza várias outras medidas a serem adotadas para que as creches venham a ter menos desvantagens mais vantagens.