São Paulo (AUN - USP) - A raiva é uma doença letal que mata cerca de 55 mil pessoas por ano em todo o mundo. Os métodos de combate mais eficientes atualmente são as vacinas, o controle de populações de animais (natalidade) e a educação da população. Entretanto, pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) avançam nas pesquisas e realizam testes in vitro na busca de medicamentos capazes de curar as pessoas infectadas pelo vírus.
Em todo o mundo apenas duas pessoas sobreviveram ao contraírem a doença, uma nos Estados Unidos e outra aqui no Brasil, em Pernambuco. A cura deu-se devido ao uso dos mais diversos antivirais. No entanto, como destaca Paulo Eduardo Brandão, professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ: “O tratamento é muito tóxico. As pessoas ficam em coma induzido, submetidas massivamente a inúmeros medicamentos”. Quanto antes for diagnosticada a doença, maiores as chances de cura.
Expectativas da Pesquisa
O estudo, que conta com a participação de pós-doutorandos, doutorandos, professores e técnicos laboratoriais, e conta com apoio econômico da Fapesp e da Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior (Capes), baseia-se na tentativa de criar outros antivirais mais eficientes no combate à raiva.
O procedimento fundamental das pesquisas consiste na síntese de fragmentos do RNA viral, com a inoculação de fármacos (medicamentos). Essa nova sequência de RNA provocaria a degradação do vírus. Os testes são realizados in vitro e análises científicas dos efeitos de substâncias químicas tóxicas em culturas de bactérias ou células de mamíferos e em células nervosas específicas.
Os estudos avançam progressivamente e, segundo Brandão, “já nas próximas décadas alguns medicamentos mais eficientes estarão à disposição dos seres humanos no auxílio à cura da raiva”. Dessa maneira, teremos disponíveis não apenas métodos eficazes para a prevenção da doença, mas também para sua cura.
A volta da vacinação
A campanha de vacinação contra a raiva, suspensa desde 2010 por conta da reação causada nos animas, levando à morte de alguns deles, será retomada. Na cidade de São Paulo, as vacinações irão de 21 de maio a 3 de junho. Mas, segundo o Ministério da Saúde, São Paulo não é uma das áreas de risco. Estados como Bahia, Maranhão e Ceará, que registraram casos de raiva canina nos últimos dois anos, tiveram prioridade e já receberam as doses desde o final do ano passado.
Os cachorros não são os únicos culpados
A transmissão é feita pela saliva doa animais infectados. Assim, a chance de transmissão por outros animais, além dos cachorros, é a mesma, como nos casos dos gatos, por exemplo. Na fase final da doença, a situação dos animais é deplorável. Segundo Andrea Ferreira, médica do Hospital Veterinário (Hovet), “os sintomas são agressividade, sensibilidade à luz e paralisia. Em fases avançadas da doença a situação é muito crítica. Já vi casos em que os donos dos animais sofreram bastante.”
Segundo o Ministério da Saúde, as vacinas colocadas à disposição em 2010 eram produzidas em cultivo celular, especificamente em células de rim de hamsters lactentes (BHK). A vacina BHK apresenta poder imunogênico mais forte que a vacina usada anteriormente.
Andréa também aponta outros fatores para a questão: “O problema é que começaram a utilizar vacinas mais baratas que deram reação nos animais”. Os testes realizados para comprovação da qualidade das novas vacinas também foram muito questionados na época por diferentes profissionais da área. Apesar de todos os problemas, a volta da campanha de vacinação, de forma segura e confiável, é essencial. A vacinação ainda é o método mais eficaz de controle da doença.