São Paulo (AUN - USP) - Centenas de trabalhos de conclusão de curso das primeiras turmas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) foram restaurados e disponibilizados para consulta na biblioteca da unidade e no sistema Dedalus (ferramenta de busca de obras). Alguns dos trabalhos recuperados se encontram na exposição Theses Inauguraes: Recuperação e Registro, em cartaz na biblioteca central da unidade até o fim deste ano. O evento, que inaugura o ciclo de exposições em comemoração aos 100 anos da faculdade, ilustra também o processo de recuperação dos trabalhos.
As Theses Inauguraes eram as dissertações que os estudantes de Medicina deveriam apresentar e defender ao final da graduação para obter o diploma de “doutor”. Na dissertação, os alunos escolhiam aprofundar um tema de destaque de uma das 26 carreiras da faculdade. Dessa forma, as teses cumpriam um papel importante na definição da especialização dos estudantes. Essa prática, a última das três etapas da conclusão do curso, foi herdada das Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro e passou por alterações a partir de 1931 até ser definitivamente substituída pela residência médica na década de 50.
Entre os trabalhos destacados na exposição se encontram três teses de alunos ilustres e quatro de estudantes da turma de 1919, a primeira do curso. Entre as do primeiro grupo, está a de Alípio Corrêa Netto, que viria a ser o 11º Reitor da Universidade de São Paulo em 1955. Ele se graduou em 1923 e no ano seguinte defendeu sua tese Contribuição ao Estudo dos Cystos Congênitos do Pescoço. Dentre os formandos da primeira turma, estão os trabalhos de Ernesto de Souza Campos, um dos articuladores da criação da USP e diretor da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) e das duas únicas mulheres do grupo: Odette Nóra de Azevedo Antunes e Delia Ferraz Fávero.
Outra parte da exposição é reservada à explicação das técnicas utilizadas no restauro das monografias. O processo se divide em quatro etapas de avaliação do estado físico da obra, higienização e reparação das intervenções humanas como grifos e fitas adesivas, aplicação da costura manual e confecção da capa, respectivamente. As reparações foram ministradas pelo Setor de Conservação e Encadernação da Biblioteca Central da faculdade e estão vinculadas às obras de restauro e modernização do acervo. Os trabalhos já estavam disponíveis para consulta na unidade, mas receberam o tratamento para melhor conservação e foram reorganizados, sendo incluídos no sistema Dedalus, de modo a facilitar o acesso.
Além de proporcionar uma amostra da evolução na forma e conteúdo dos trabalhos dos estudantes, a exposição busca provocar uma reflexão sobre a relevância e relação desses com a sua época, convidando os visitantes a refletirem sobre quem eram aqueles alunos e o que almejavam com as dissertações. Além disso, as teses destacadas ajudam a recuperar e evidenciar os laços dos alunos e docentes da FMUSP entre si e com a cidade de São Paulo de um modo geral, apontando para a importância histórica da faculdade por ocasião da celebração de seu centenário, neste ano.