São Paulo (AUN - USP) - Sustentabilidade, meio ambiente, responsabilidade ambiental são assuntos que têm ultrapassado, nas últimas décadas, os círculos de discussões de ambientalistas e alcançado o público empresarial e a sociedade. É nesse contexto que se insere o “Seminário Empreendedorismo Ambiental: questões da atualidade” realizado na FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP) no dia 20 de abril. Durante o evento, foram apresentados seis dos trabalhos de conclusão de curso desenvolvidos durante o MBA em Gestão e Empreendedorismo Ambiental da FIA (Fundação Instituto de Administração).

Em um dos trabalhos, a importância da incorporação da sustentabilidade como novo valor dentro da cultura da empresa foi destacada por Denise Barbosa, que analisou durante meses com documentações e entrevistas uma grande indústria brasileira. Segundo sua pesquisa, é preciso verificar “até que ponto a missão e visão da empresa estão alinhados aos valores que possibilitam o desenvolvimento sustentável”. Como exemplo, a pesquisadora cita o reconhecimento do papel do setor de Recursos Humanos para criar ou fortalecer uma cultura organizacional voltada para a sustentabilidade. “Diferentemente das empresas que usam o tema da sustentabilidade porque está na moda, mas não agem de acordo com isso”, compara Denise.

Além da sustentabilidade nas empresas já existentes, há outras iniciativas como os negócios sociais que se destacam por esse viés, segundo Mariana Roquette, que procurou com seu trabalho mapear essas tendências. De acordo com a pesquisa, 64% desses negócios são sustentáveis, tendo sido seu objetivo identificar as estratégias, tendências para se alcançar a sustentabilidade e a sustentação financeira dessas iniciativas a partir de três estudos de caso. Após análise, a aluna verificou que “negócio social é um recorte de pequeno investimento e um conceito ainda em construção”.

Já na área jurídica, Hellen Macedo expôs um grande desafio da legislação brasileira na área ambiental, principalmente no que concerne ao acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais de comunidades indígenas e locais. Na Constituição Federal de 1988, 550 instrumentos legais relativos à meta de conservação e uso sustentável da biodiversidade se combinam para cumprir a Estratégia Nacional de Biodiversidade. Contudo, Hellen destaca que a existência dessas leis, isoladamente não representam nada: “As leis são construções sociais, transmitem valores da sociedade, não agem por si só”. No sentido de diminuir a defasagem entre recursos, leis e as implantações das mesmas, ela sugere alguns elementos necessários ao novo marco legal do acesso à repartição dos benefícios (ABS, na sigla em inglês), visto que a legislação a esse respeito ainda se baseia em uma Medida Provisória de 2001. Segundo Hellen, a participação dos povos indígenas e comunidades locais, o direcionamentos das políticas ambientais, a clareza de conceitos e procedimentos, além do incentivo à regularização seriam algumas das mudanças.

O cenário de dificuldade da sustentabilidade, demonstra que essa é uma questão de longo prazo. “Não se pode abandonar valores por dificuldades”, afirmou Thereza Penna Firme, uma das professoras do curso, após exposição de trabalhos que contribuem para o debate sobre iniciativas, ações e legislação que se referem à questão ambiental.