ISSN 2359-5191

02/05/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 23 - Sociedade - Instituto de Relações Internacionais
Crise econômica não significa fim da hegemonia do Ocidente

São Paulo (AUN - USP) - A crise política e econômica que atravessamos coloca a hegemonia do ocidente em dúvida. Mas o que nós entendemos por hegemonia? Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Peter Demant essa é a principal pergunta. “Se a hegemonia só quer dizer poder supremo então você pode apontar para uma série de fatores em que potências ocidentais ainda são mais fortes, se isso inclui também o elemento de consentimento daqueles que não são hegemônicos, então é mais problemático, pois já existe muita resistência a essa hegemonia do Ocidente”. Mas as grandes potências, em sua maioria, ainda são ocidentais. Militarmente, os Estados Unidos são insuperáveis, tendo a maior despesa militar do mundo, mais de US$ 300 bilhões, Rússia e China que vem logo atrás não chegam aos US$ 50 bilhões cada.

O capitalismo sempre sofreu crises periódicas, mas a economia mundial cresceu nos últimos séculos e nosso padrão de vida nunca foi tão bom. Demant afirma: “A grande maioria das pessoas está presa na sua instantaneidade, mas como historiador posso afirmar que isso é basicamente uma supervalorização [da crise].” Ele explica ainda que a tensão na economia atinge mais os países europeus que os Estados Unidos. Quanto à emergência dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, e China), Demant não acredita que isso implique em uma virada fundamental e irreversível do jogo de forças mundial, pois esses países são amplamente dependentes da economia mundial.

Daí a desconfiança de Demant sobre uma possível hegemonia chinesa. A China ainda não ultrapassou economicamente o Ocidente e sofre com graves desequilíbrios socioeconômicos que significam uma necessidade de constante crescimento para manter a legitimidade de sua ditadura. Para que uma potência se torne hegemônica ela precisa ser aceita pelas outras potências e incorporar um ideal. “Existem críticas contra a política dos Estados Unidos, mas as pessoas ainda estão na fila para conseguir vistos americanos, ainda existe uma espécie de sonho que influencia pessoas ao redor do mundo.”, explica Demant. “Não existe um sonho chinês.” Mas ele completa: “Não é possível imaginar um mundo estável sem uma China muito importante e poderosa”. Para o professor seria muito pior uma China humilhada, frustrada, que não tem no mundo o equivalente de influência lógico para um país desse tamanho e peso.

E mesmo a China abraça alguns valores ocidentais. Dos 191 países da ONU, quase todos são independentes pela aplicação de princípios ocidentais de estado-nação e autodeterminação dos povos, além de serem capitalistas. “Você tem ao mesmo tempo uma ocidentalização do não Ocidente, mas também uma universalização do Ocidente”, explica Demant. Mesmo no mundo muçulmano, onde há maior resistência, a Primavera Árabe reivindica ideias ocidentais como a democracia e os direitos civis.

Demant acredita que uma nova potência hegemônica não surgirá rapidamente, pois a sociedade civil internacional é muito amorfa, mas sua auto-organização tem cada vez mais peso. “O que é mais possível de esperar é uma coordenação não só entre países, mas, mais importante, entre sociedades.” E completa:“ Nós falamos muito de economias, interesses de estado, mas mais importante são seres humanos e sociedades humanas aprenderem a conviver em paz e a resolver seus problemas de forma pacífica por negociação”.

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