São Paulo (AUN - USP) -“Modernismo é, de fato, ironia, alegria, descoberta, mas não é uma festividade gratuita.” Foi com essas palavras que a professora Telê Ancona Lopez encerrou a conferência de abertura do seminário 90 anos da Semana de Arte Moderna: debates, promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB).
Realizado no dia 17 de abril, no Auditório do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), o evento iniciou as discussões sobre a Semana de 22 com a fala da docente sobre a intenção dos debates que serão realizados e um breve histórico de estudos e exposições sobre o modernismo brasileiro.
Telê iniciou sua explanação falando do objetivo do seminário: debater as ideias do modernismo e trazê-las para o momento contemporâneo. No entanto, ela esclarece que não se trata de arrasar o passado, nem tentar revivê-lo de forma anacrônica ou transformar o movimento vanguardista em paradigma: 1922 é, acima de tudo, uma lição para se meditar.
A professora falou sobre a importância dos estudos de cartas e manuscritos de Mário de Andrade que estão no acervo do Instituto. “Esse arquivo equivale a uma profusa e fragmentada autobiografia”, afirma ela sobre as correspondências.
Já sobre os manuscritos, destaca a relevância da pesquisa. “Penso que ele [o projeto de pesquisa] trouxe descobertas, ou melhor, conquistas importantes ao buscar novas dimensões do manuscrito, espaço da criação, como escrita viva.” Entre essas descobertas, ela ressalta a nova maneira de encarar a rasura, não mais no plano de certo e errado, mas sim como recurso de recriação do artista.
Telê também falou sobre a importância da biblioteca de Mário de Andrade, que está no acervo do IEB, na busca de diálogos com a obra do autor, encarando a criação enquanto apropriação, como o escritor diz em carta para Manuel Bandeira: “Em última análise, tudo é influência nesse mundo”.
A docente também contou sobre comemorações passadas, como a primeira, realizada em 1942 na Casa do Estudante do Brasil, em pleno Estado Novo, quando Mário de Andrade apresentou a conferência O Movimento Modernista. Segundo Telê, foi o primeiro balanço do movimento que desejava renovar a arte e a cultura brasileiras. Já em 1972, o IEB organizou uma exposição interdisciplinar internacional para comemorar os 50 anos do evento.