São Paulo (AUN - USP) - Mais de 50% da imigração, na América do Sul, é de mulheres, fenômeno explicado pela soma de vários fatores. Dessa forma, a mulher imigrante se torna personagem importante na sociedade brasileira. Além disso, os imigrantes de classes mais baixas, que se tratam da maioria, enfrentam muitas dificuldades para se estabelecer no País, apesar de o governo não conter expressamente a imigração de mão de obra não qualificada para o território.
Estas foram as pautas do debate Migração, gênero e sexualidade: olhares da mulher boliviana, organizado pelo Educar para o Mundo, projeto de extensão universitária do IRI (Instituto de Relações Internacionais da USP), realizado recentemente na FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP). O projeto trabalha com a temática da inclusão de imigrantes latino-americanos e de seus descendentes no Brasil. Compondo a mesa estavam Laura Moutinho, professora do Departamento de Antropologia da FFLCH, e Marina Novaes, advogada do CAMI (Centro de Apoio ao Migrante de São Paulo) e mestranda da FFLCH.
Para Marina, que hoje trabalha em uma pesquisa voltada para mulheres imigrantes a partir da história oral de peruanas, bolivianas e paraguaias a emancipação feminina é fator essencial para o aumento da imigração de mulheres. “Tão importante quanto o volume crescente das imigrantes em deslocamento, são as especificidades desse fenômeno migratório: elas são imigrantes econômicas, mas este deslocamento não está ligado só a esses benefícios. Isso também representa um rompimento com a trajetória de subordinação, de uma vontade de escrever sua própria história sozinha”, afirma. Ela acredita que esses deslocamentos acabam por gerar mudanças nas organizações das famílias, nas escolhas profissionais dessas mulheres, na articulação que passam a ter na nova rede social e na própria representação da mulher.
A advogada do CAMI também defende políticas públicas voltadas às populações de imigrantes, já que alguns dos problemas enfrentados por elas se mostram quase específicos. “Em 2005, cerca de 80% das pessoas com tuberculose na cidade de São Paulo eram bolivianos”, conta. Ela também chama atenção para o fato de que um dos motivos de isso não se dar da forma correta é o fato de que muitos desses imigrantes não possuem registro, o que não é proibido no Brasil, mas acaba por influenciar nas políticas feitas pelo governo.“Nós sabemos que são os números que fazem as políticas públicas”.
Já para a antropóloga Laura, a questão das políticas públicas direcionadas deve ser debatida com afinco. “A princípio, eu não sou a favor, penso que é algo que tem de ser muito debatido.” Para ela, as políticas exclusivas são menos eficazes do que as as gerais, pois, afinal, todos precisam dos mesmos bens básicos que devem ser providos pelo Estado. Não necessariamente isso deveria derivar do reconhecimento de que se faz parte de uma comunidade diferenciada. “Eu fico aflita com o Estado produzindo identidade o tempo inteiro e deixando de produzir serviços”, comenta a antropóloga. Para ela, esse processo, muitas vezes, se trata de negociar com o estereótipo negativo e acaba por legitimá-lo.