São Paulo (AUN - USP) - O livro Governança da Ordem Ambiental Internacional e Inclusão Social foi debatido recentemente por um grupo de pesquisadores de várias unidades da USP. Lançado pela Editora Annablume, o livro contém pesquisas e pareceres sobre problemas a serem debatidos na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, ou Rio +20. O encontro ocorreu no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade.
Célio Bermann, professor associado no Instituto de Eletrotécnica e Energia, abriu a exposição, tecendo críticas ao que chama de uma “visão unilateral dos agrocombustíveis. Estamos assistindo impávidos, aos avanços tecnológicos com o desenvolvimento dos motores elétricos de alto desempenho, enquanto insistimos nos discutíveis motores flex fuel. Bermann acusa, inclusive, os motores bicombustíveis de ineficiência. Segundo ele, a tecnologia atual não permite aproveitar eficientemente os combustíveis, o que resulta num consumo 23,5% superior de gasolina e 25% superior de álcool, se comparado a motores tradicionais.
As críticas do professor aos biocombustíveis vão mais além. Segundo apontam suas pesquisas, a substituição completa da gasolina pelo etanol é inviável, pois exigiria o uso de 35% da terra arável disponível atualmente. Por sua vez, o banimento total do óleo diesel comum em favor do biodiesel consumiria uma área de plantio um quarto maior do que a disponível no planeta.
Além dos motores elétricos, outra opção apontada pelo pesquisador é o biodiesel de algas. Essa tecnologia vem sendo desenvolvida pelo Laboratório Nacional de Energia Renovável (NREL), no Colorado (EUA), mas ainda não é viável, devido ao elevado custo. Edmilson Dias de Freitas, professor associado do IAG, é mais cauteloso. “Muito sobre o biodiesel ainda precisa ser estudado. Ainda é muito cedo para você dizer se ajuda ou não”, explica o professor.
Mas a reunião, que acontecerá no Rio de Janeiro, não se limitará a discutir problemas ambientais. Questões relacionadas à pobreza e à inclusão social também estarão em pauta e foram abordadas na palestra. O grande número de sem-teto foi tema central da exposição de Silvia Helena Zanirato, professora do Curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. Segundo dados do IBGE citados pelas pesquisadora, comparando os anos de 2006 e 2008, os 6,7 milhões de domicílios vagos no Brasil excedem claramente os 5,8 milhões necessários para se eliminar nosso déficit habitacional. Sílvia já desenvolveu programas de habitação popular em nove estados brasileiros e critica o que chama de “concepção elitista do patrimônio cultural edificado”, defendendo o uso dos edifícios de valor histórico e cultural para fins habitacionais e não só estéticos.
Além do livro, foi inaugurada uma página eletrônica que abriga trabalhos relacionados aos temas da Rio + 20 realizados na USP desde 1992. Desenvolvido por Wagner Costa Ribeiro, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Arlindo Phillipi Jr, pró-reitor adjunto de Pós-Graduação da USP, e Edmilson de Freitas, o site permanecerá em funcionamento (e aberto a novas pesquisas) mesmo após a realização da Rio +20, que ocorrerá entre 20 e 22 de junho deste ano. O endereço é www.prpg.usp.br/usprio+20.
Temores de que a conferência socioambiental da ONU acabe sendo ineficaz já foram expressos, por exemplo, pelos ex-ministros do Meio Ambiente Marina Silva, José Goldenberg, José Carlos de Carvalho e Rubens Ricupero. “Precisa muita conversa, um documento que defina metas e que contemple a diversidade, sem dar um parâmetro a ser seguido”, diz Pedro Jacobi, professor titular do Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental do PROCAM/IEE. Edmilson de Freitas se mostra otimista quanto ao evento. “Visibilidade é uma coisa fundamental para que ações sejam tomadas”, afirma. “Sempre existe um benefício que surge de uma reunião desse tipo.”