ISSN 2359-5191

11/05/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 28 - Sociedade - Instituto de Estudos Brasileiros
Pesquisadores debatem relação entre modernismo e música brasileira

São Paulo (AUN - USP) - Os desdobramentos da Semana de 22 na música foram o tema da mesa Erudita, Comercial e Tradicional: debates sobre a música brasileira. Mediada pelo professor Walter Garcia, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), foi a primeira do dia 20 de abril, o último do seminário 90 anos da Semana de Arte Moderna: debates, promovido pelo IEB. Foram convidados os professores Paulo Castagna, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Carlos Sandroni, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e o músico e pesquisador Lincoln Antônio, do grupo A Barca.

“A Semana de 22 tem como grande contribuição um certo choque no que se refere à renovação estética, um chacoalhar para um olhar mais amplo para as renovações estéticas que estavam acontecendo no mundo”, afirma Castagna. Porém, os rumos tomados pela música erudita brasileira divergem do projeto da Semana. “Os maiores desdobramentos que se seguem no decorrer dos anos 20 e nas décadas posteriores é o surgimento de um nacionalismo intelectual.”

Segundo o professor, já havia tentativas de um nacionalismo na música erudita desde o final do século 19, mas com uma estética diferente, influenciada pelo romantismo. “O que acontece nos anos 20 é um fenômeno bem mais intenso e com uma estética escolhida propositalmente em função desse nacionalismo.” No entanto, Castagna esclarece que não se trata de um retrocesso, mas uma contestação. “Os nacionalistas não são tanto um resultado direto da Semana de 22, mas eles são contestadores dela e do modernismo dos anos 10. Eles anseiam uma coisa que, na visão deles, é mais progressista, mais avançada.”

Apesar disso, havia pontos em comum entre os dois grupos. “Tanto os modernistas quanto os nacionalistas estão bastante preocupados em fazer um tipo de música que circule dentro da elite. O povo é visto como substrato para a formação de uma cultura nacional, e não como o futuro beneficiário dela.”

Por isso, não havia um interesse em mudar os meios de difusão da música existentes, como a orquestra, situação que se mantém até os dias de hoje. “A música que é composta nos dias de hoje é muito inovadora na sonoridade que ela cria, mas em termos dos meios de difusão, ela usa os mesmos do século 19”, afirma Castagna.

Popular, tradicional e folclórica
Carlos Sandroni discutiu a relação entre a divisão da música em categorias, “grandes gavetas nas quais a gente acomoda gêneros, canções e intérpretes”, e a pesquisa musical de Mário de Andrade. “Uma coisa que eu acho importante é o caráter cambiante dessas categorias”, destaca o professor.

Sandroni conta que Mário esbarrava num problema relacionado às categorias: a diferença entre o conceito de popular e o de tradicional. Enquanto o primeiro é mais aberto, o segundo estava ligado ao folclore e, portanto, ao passado. “A ideia de tradicional e de folclore faz ele às vezes hesitar se se pode dizer que a música brasileira era tradicional, visto que muitas vezes se percebia que ela era de feitura muito recente”, explica o estudioso. A solução encontrada pelo pesquisador modernista estava no método de composição. “Embora as músicas fossem recentes, as maneiras de fazer eram, sim, tradicionais.”

Lincoln Antonio completa as afirmações de Sandroni. “A música tradicional não é só rural: a escola de samba mostra isso. Mas mesmo a que parece mais rural tem uma influência da cidade e se renova. A música tradicional não é algo estático: ela está no mundo e está em transformação”, conclui o músico.

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