ISSN 2359-5191

17/05/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 30 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Laser do bem
Raio laser de baixa intensidade trata câncer de pele com maior eficiência e a custo menor

São Paulo (AUN - USP) - O raio laser, protagonizou jornais e sites em meados de 2008. Na ocasião, pelo menos 30 jovens russos sofreram queimaduras na retina provocadas pelo impacto dos raios emitidos enquanto assistiam a um show de música eletrônica. Aqui, no Brasil, mais precisamente no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), desde 2007 um grupo busca, por meio do laser, o inverso do que aconteceu na Rússia: não o prejuízo, mas tais feixes de luz, com menor potência, servindo em benefício à saúde humana. E, até agora, os resultados são animadores.

Quando se fala em laser aplicado à saúde, geralmente pensa-se no laser cirúrgico, de maior potência, que queima e corta tecidos, utilizado, por exemplo, em algumas cirurgias oculares. O grupo do IF, no entanto, tem outro assunto em mente, o Laser de Baixa Intensidade (LBI). Sua potência luminosa – quantidade de luz emitida (energia) por segundo – é mais baixa, menor que 1 watt. Consequentemente, o tecido atingido pelo feixe de luz praticamente não é aquecido (não mais do que 1ºC). Por isso, são muitas suas aplicações terapêuticas em diversas áreas da saúde como medicina, odontologia e fisioterapia.

Uma das coordenadoras da equipe, a professora Elisabeth Mateus Yoshimura, explica que “o Laser de Baixa Potência ‘entrega’ energia para a célula funcionar melhor, estimula a mitocôndria e, consequentemente, há maior produção de ATP (energia)”. Como tudo isso funciona ainda não se sabe precisamente, mas é o que o núcleo busca descobrir.

Com baixa potência, o laser pode ser utilizado em processos de cicatrização, reduzindo seu tempo e possibilitando cicatrizes melhores, mais bonitas. Normalmente, a aplicação do laser é diária ou entre curtos espaços de tempo (a cada dois dias, por exemplo) e pode ser iniciada logo que o paciente sai de uma cirurgia. Elisabeth exemplifica a utilização do LIB após cirurgias de ponte de safena, em que parte da veia safena é retirada da perna para religar artérias do coração obstruídas por placas de gordura. “Fica uma cicatriz grande e profunda na perna. O laser de baixa potência pode abreviar o tempo dessa cicatrização, diminuir as chances de deiscência [reabertura de uma ferida já fechada], além de reduzir a dor e o inchaço”, explica a professora.

Reduzir dor e inchaço? Sim, mais duas ações do LIB: contribuir para processos de analgesia (controle da dor) e efeito anti-inflamatório. Aparentemente, a dor diminui porque, reduzindo o inchaço da região, o laser alivia a pressão entre os tecidos. Mas há indícios também de que atue no aumento do potencial de ação dos neurônios, sua regeneração em caso de traumas e crescimento de axônios.

Elisabeth aponta que seria muito interessante se eles conseguissem “iluminar” um paciente durante cirurgias cardíacas em que o sangue passa por fora do corpo do paciente (por tubulações), o que acaba gerando processos inflamatórios. O LIB iluminaria esse sangue e conteria o processo. Mas a professora ressalta que ainda precisam ser estudadas as consequências que isso poderia acarretar em outras células. “Além de ser um momento difícil, o paciente já está passando por uma situação complexa e de muita dor. Como vamos conseguir testar a técnica em humanos?”, questiona.

Outra importante aplicação do LIB é na Terapia Fotodinâmica (PDT), técnica muito eficiente para combater cânceres como o de pele e de mucosas. Elisabeth explica que a aplicação da PDT lembra uma cirurgia e, simplificando, funciona da seguinte maneira: “fazer chegar” – injetando, por exemplo – ao tecido “doente” moléculas sensíveis à incidência da luz; o laser quebra tais moléculas, transformando energia do fóton em energia química e liberando um radical livre que “mata” as células cancerígenas. Em relação à radioterapia, outra técnica para tratar cânceres mais avançados, a PDT, leva vantagem na maior precisão com que atinge os tecidos adoecidos, obtendo resultados mais rápidos e deixando marcas mínimas.

Tratamentos com Laser de Baixa Intensidade mexem ainda com outra questão muito importante: o bolso. Equipamentos de radioterapia são enormes, bem como lasers cirúrgicos, que ainda precisam ser armazenados em local refrigerado. Tudo isso encarece o custo de utilização dessas técnicas. O equipamento do LIB, por sua vez, é mais barato e portátil.

Alguns cuidados preventivos, no entanto, são necessários. Como o LIB estimula a produção de energia das células e, consequentemente, seu crescimento, a professora Elisabeth ressalta que, quando não for por meio da PDT, não parece muito aconselhável aplicá-lo em regiões onde há tumor/câncer ou feridas crônicas, constantemente infectadas e de difícil controle. O laser poderia reproduzir tais células “doentes”. “Há alguns indícios de que o laser de baixa potência altera também a viscosidade do sangue, e isso é muito importante, precisa ser estudado porque o sangue depende dessa viscosidade para circular bem”, acrescenta Elisabeth.

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