ISSN 2359-5191

30/05/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 34 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Pesquisa traça o futuro do etanol brasileiro

São Paulo (AUN - USP) - O centro de pesquisa que o professor Marcos Buckeridge comanda trabalha com dois tipos de energia proveniente da cana-de-açúcar: a chamada energia de primeira geração, que é usada atualmente e corresponde a apenas um terço da energia de toda a planta, e a de segunda geração, que poderia aumentar muito nosso rendimento energético por utilizar os outros dois terços que são desperdiçados. Esses outros dois terços de energia se encontram na parede celular da cana- de-açúcar, cujo destino na maioria das vezes é o lixo, parte na forma do bagaço e outra parcela na forma de palha que sobra nas plantações.

Algumas usinas reaproveitam esse bagaço queimando-o. A palha protege o solo das plantações e algumas pesquisas tentam descobrir o quanto dela poderia ser tirada sem causar prejuízos. Com a otimização de seu uso, poderíamos aumentar até 40% da nossa produção energética baseada na cana-de-açúcar sem aumentar a área de plantio, segundo Buckeridge.

Acreditar que o bagaço da cana é formado exclusivamente de celulose é um dos impedimentos que pesquisas semelhantes às de Buckeridge apresentam pelo mundo. “A coisa é mais complexa do que imaginam”, explica. Outros açúcares também podem ser encontrados nas paredes celulares, o que requer processos químicos mais elaborados para isolá-los. “Já sabemos a estrutura química da parede celular, as ligações que devem ser quebradas, temos uma coleção grande de enzimas”, esclarece sobre os avanços da pesquisa. “Agora estamos no momento de colocar tudo isso junto para começar a entender como o processo é feito.”

Atualmente grande parte da energia gerada no América Latina é hidroelétrica, produzida a partir de grandes movimentos de água. Mas o futuro é promissor para outras formas de energia. “Nas Américas, o etanol será muito importante, por causa da dimensão territorial e da capacidade agrícola”, prevê o pesquisador. “Seremos responsáveis por grande parte da produção de combustível líquido na forma de etanol.” Os Estados Unidos e Europa não possuem terras aráveis suficientes para plantações com objetivos energéticos. No Brasil, essa disponibilidade ainda é grande, tanto para expandir nosso abastecimento de alimentos quanto para aumentar nossa produção energética.

Quando o assunto é biomassa, fala-se de cultivo em larga escala, o que gera preocupações mundo a fora sobre a questão alimentar e ambiental. A pesquisa de Buckeridge também busca resolver esse dilema, aumentando a produtividade por hectare plantado, o que possibilitaria que áreas menores fossem usadas para fins energéticos. Esse aumento de produtividade seria possibilitado por técnicas de plantio e pela engenharia genética, que, modificando a estrutura da cana, poderia levá-la a um rendimento energético maior.

Em relação à questão ambiental, o projeto tenta desenvolver formas de regenerar florestas no meio dos canaviais, o chamado Caminho do Meio. Com isso, a possibilidade de sequestrar carbono da atmosfera seria bem maior, já que florestas têm mais capacidade de fazer isso que apenas a cana. Essa seria uma forma também de preservar a biodiversidade, tentar afetar menos possível o ecossistema, ao mesmo tempo em que se aumenta a produtividade. “Aumentando a produtividade posso abrir um espaço, e nele coloco florestas”, explica. “O etanol brasileiro virá com essa roupagem ambiental muito forte.” Mesmo com a produtividade atual da cana, o Caminho do Meio poderia ser implantado e, em alguns lugares, isso vem sendo feito.

Essa necessidade de grandes áreas disponíveis para a plantação poderia gerar a dúvida se essa é mesmo uma forma de energia viável para o nosso país, mas em comparação com a energia eólica. A produção energética baseada na biomassa ainda é bem mais eficiente. Outro aspecto que coloca essa energia na dianteira é o custo, o que impossibilita, por exemplo, o investimento em energia solar. “Durante um tempo, pode ser que o etanol seja uma fase de transição para outras energias, principalmente a fotovoltaica.” Ainda segundo o pesquisador, o petróleo ainda será muito usado e o principal objetivo de produzir etanol é justamente prolongar o máximo possível a vida de nossas reservas petrolíferas e, é claro, tentar minimizar os efeitos das mudanças climáticas. “A grande vantagem da bioenergia é a renovabilidade”, o que o petróleo não tem.

O que torna essa pesquisa uma das pioneiras na área é, principalmente, a biodiversidade brasileira, que coloca à disposição dos nossos pesquisadores uma quantidade muito maior de microorganismos e enzimas para atuar na produção do etanol. Em relação a pesquisas semelhantes no resto do mundo, esta é uma grande vantagem segundo Buckeridge. Outra exclusividade da pesquisa foi a descoberta de processos de autodestruição na raiz da própria cana-de-açúcar. Quebrar a estrutura química da planta é uma das maiores dificuldade do processo e essa descoberta facilita muito as coisas, uma vez que a própria planta sempre esteve fazendo isso. “Entender como esse processo ocorre é o próximo passo. Em seguida será possível colocá-lo em prática para atender nossos objetivos.”

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