ISSN 2359-5191

01/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 36 - Ciência e Tecnologia - Museu de Arqueologia e Etnologia
Construção de barragens na Amazônia pode afetar sítios arqueológicos
Professor da USP destaca a importância do arqueólogo na região

São Paulo (AUN - USP) - “A usina de Belo Monte vai mobilizar mais terra do que a construção do Canal do Panamá. Serão necessários muitos arqueólogos.” É o que afirma Eduardo Góes Neves, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP).

Estudos preliminares já foram realizados na região que abrigará a usina porque, desde 1996, uma lei federal elaborada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente exige relatórios sobre características arqueológicas de locais onde obras de grande porte, como ferrovias e hidrelétricas, serão construídas. Mas para Góes, a arqueologia ainda deve empreender uma corrida contra o tempo na Amazônia: “O ritmo de construção na região é muito rápido, há a proposta de mais 70 barragens para o futuro”. Ele teme que não haja tempo suficiente para se pesquisar a área antes que o avanço destrua os sítios arqueológicos existentes.

Segundo o pesquisador, no ano passado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizou a realização de aproximadamente 1,2 mil pesquisas acadêmicas na região. Góes aponta, no entanto, para um mercantilização prejudicial do trabalho do arqueólogo. “Você vai ganhar muito mais dinheiro trabalhando em uma empresa de arqueologia do que com bolsas de pesquisa concedidas”, afirma ele. Embora o arqueólogo de contrato – que atua naqueles locais onde grandes obras serão realizadas, por exemplo – aprenda a trabalhar mais rápido, a pressão para que o espaço seja rapidamente liberado (e a obra possa ser iniciada) é tão grande que o professor acredita que “é ilusão achar que esses sítios estão sendo devidamente estudados”.

A imagem que foi construída da Amazônia é a de uma terra virgem, intocada pela vida humana. Seus sítios arqueológicos revelam, porém, uma realidade bem diferente. O sítio de Açutuba, por exemplo, foi localizado em 1994 e tem sido escavado desde então. Localizado na margem direita do rio Negro, ele tem cerca de 90 hectares de área e foi ocupado em pelo menos quatro episódios distintos desde 300 a.C. até o século 16.

O sítio arqueológico é o passado preservado no presente. Em certo sentido, os arqueólogos são “destruidores” desses locais, porque retiram, escavam, modificam os artefatos que lá encontram. Mas eles fazem isso com um método que busca ao máximo não apagar a história desses materiais. Uma vez destruído o sítio, aquele contexto único que ele representava nunca mais poderá ser estudado e reconstituído. “Por isso, a responsabilidade do profissional é muito grande”, explica Góes.

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