São Paulo (AUN - USP) - O projeto vencedor da licitação para a construção da Nova Luz foi criticado por professores, arquitetos e membros da sociedade civil durante debate recente, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na Rua Maranhão. O evento Nova Luz: quem está ganhando? Quem está perdendo? contou com a participação de Amelia Reynaldo e sua equipe, vencedores do consórcio Nova Luz e a professora Raquel Rolnik, urbanista e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada.
As críticas se concentraram principalmente na lógica em que o processo será realizado. Segundo o projeto apresentado, a demolição de edificações para a construção de habitações de interesse social respeitará um cauteloso estudo das especificidades de cada local, levando em conta o número de unidades habitacionais e se os edifícios são tombados ou não. A partir disso, os terrenos livres passariam para a iniciativa privada, que construiria equipamentos públicos que atenderiam os antigos e novos moradores da região.
Segundo Raquel, o projeto já parte de um princípio perverso, que é a chamada revitalização. “Revitalizar é considerar que aquele lugar não possuía vida, quando, na verdade, é vivíssimo.” Parte da Nova Luz é considerada, pelo plano diretor da cidade de São Paulo como uma Zona Econômica de Interesse Social (Zeis), ou seja, são porções do território destinadas, prioritariamente, à recuperação urbanística, à regularização fundiária e produção de Habitações de Interesse Social. Em vez de uma tentativa de melhoria na vida das pessoas do centro, o projeto se estrutura, segundo a urbanista, na base do “o que dá pra demolir?”. Com terrenos livres, a iniciativa privada lucra nas obras realizadas e também com a valorização da região, que traz um novo público para o local e expulsa os velhos habitantes para áreas distantes do centro da cidade (periferias e mananciais).
Mais do que isso, o projeto não esclareceu precisamente a faixa de renda da população que terá poder de compra na área. Ao classificar juntamente pessoas com faixa de renda de 0 a 6 salários mínimos, encobre-se uma grande dificuldade das construções de habitação social para pessoas de baixa renda, entre 0 e 3 salários, justamente a maior demanda.
Outra questão levantada e que não foi claramente explicada no projeto é se somente o que é oficialmente tombado pelo poder público é que tem valor histórico e deve ser preservado. Segundo a professora Maria Luiza Correa, também da FAU, a área é muito importante historicamente, por ser um dos primeiros bairros da cidade de São Paulo, remontando ao final do século 18.