São Paulo (AUN - USP) - Após mais de 14 anos coletando amostras do ar da Floresta Amazônica, pesquisadores do Centro de Química e Meio Ambiente do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares na USP) conseguiram alcançar conclusões preliminares para um estudo sobre a atmosfera da região e já afirmam que o maior bioma do planeta “absorve o CO2 emitido por atividades humanas”.
Com o objetivo de “avaliar a interação da biosfera com a atmosfera”, a química Luciana Vani Gatti viaja todos os meses para a Amazônia, onde participa de dois voos para coleta de amostras. Essa operação ocorre desde 2010 e só deve ser encerrada daqui a dois anos. Até lá, serão investidos quase R$ 2 milhões, preço dos equipamentos e viagens que responderão definitivamente se “a Amazônia absorve ou emite gases do efeito estufa”.
No início dos estudos, Luciana conta que encabeçou a instalação de 12 torres de monitoramento do ar ao longo do território amazônico, o que, em tese, renderia uma média do comportamento atmosférico da região. Contudo, “a elevada heterogeneidade da floresta fez com que, de torre em torre, houvesse uma enorme variação de resultados”.
Foram tentados então voos de campanha, que permaneciam coletando amostras por um intervalo fixo do ano. Ainda assim, ela revela que os resultados também não foram satisfatórios, pois por um período de 15 dias, por exemplo, “não poderia se generalizar o padrão dos fenômenos atmosféricos de todo um ano”.
O método ideal para essa avaliação surgiria apenas com a ideia dos chamados “perfis verticais com aviões pequenos” – manobras aéreas nas quais uma aeronave de pequeno porte alcança quatro quilômetros de altitude e, então, passa a descer lentamente, percorrendo longos trajetos circulares. Em alturas específicas, um frasco é colocado para fora da cabine para que as amostras sejam coletadas.
Sabe-se que vegetais emitem ou absorvem carbono de acordo com o momento do dia. Entretanto, Luciana ressalta que seu estudo não envolve apenas elementos vivos, pois até mesmo diferenças na composição do solo podem provocar variações na concentração de gás carbônico ao longo da Bacia Amazônica. “Estou avaliando a resultante de diversos fatores”, razão pela qual “é necessária grande amplitude geográfica e amostragens contínuas”, esclarece.
O projeto de pesquisa foi idealizado ainda durante a ECO 92, conferência que reuniu no Rio de Janeiro, em 1992, mais de 100 chefes de Estado para debater possibilidades sustentáveis de desenvolvimento capitalista. Entre seus principais parceiros está a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, na sigla em inglês), uma divisão do Departamento de Comércio dos EUA responsável pelo monitoramento da estabilidade ecológica de biomas marinhos e atmosféricos.