ISSN 2359-5191

06/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 39 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Manejo florestal busca preservar Mata Atlântica na USP

São Paulo (AUN - USP) - O projeto de manejo de palmeiras que foi aprovado ano passado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo busca retirar da reserva florestal do Instituto de Biociências da USP espécies invasoras, como a palmeira australiana, colocando em seu lugar plantas nativas da região. A matinha do IB, como é chamada, deu nome à Rua do Matão e corria perigo de se transformar em um grande palmeiral. O objetivo do projeto é preservar os vestígios de Mata Atlântica presentes nessa reserva.

A palmeira australiana foi trazida para os jardins da Cidade Universitária e se espalhou por todo o campus devido à grande atratividade que seus frutos exercem sobre os pássaros, principais agentes de dispersão. As aves são atraídas pela cor vermelha dos cachos, mesmo não sendo boa fonte de nutrientes, como análises realizadas pelo projeto de manejo indicaram.

A substituição das palmeiras será feita por plantas nativas da região do Butantã. Para localizar essas espécies, uma pesquisa analisou registros datados desde 1916. “Não adiantaria colocar uma espécie nativa da Mata Atlântica, mas não do Butantã, porque ela poderia se tornar uma invasora também”, explica a professora Vania Regina Pivello, responsável pelo projeto. Hoje Vania trabalha na Superintendência de Gestão Ambiental da USP, criada em março deste ano e que tem como objetivo cuidar de questões ambientais em todos os campi da Universidade. Antes da criação da Superintendência, a professora coordenava o projeto do próprio IB.

Em 1997, um grupo de estudos percebeu que o número de palmeiras dentro da reserva florestal havia crescido muito. Para demonstrar o real perigo que a planta invasora poderia causar, lançaram-se à coleta de dados para comprovar a gravidade da situação. Foi nesse momento que foi feita uma análise nutritiva dos frutos, para saber qual seria o impacto da retirada dessas palmeiras sobre a alimentação das aves. Comprovaram que palmeiras nativas eram mais nutritivas e que havia real necessidade de tirar as palmeiras australianas da reserva.

Porém, apenas em janeiro de 2011, o projeto conseguiu verbas do Estado de São Paulo para colocar o manejo em prática. O investimento foi possível por conta de um programa sobre matas ciliares que auxiliou financeiramente o projeto de manejo na reserva do IB, porque nela existe uma nascente que dá origem ao lago próximo ao Instituto de Geologia. O rio formado está encanado e deságua na Raia Olímpica da USP. A verba conseguida possibilitou que o projeto de manejo se estendesse para o viveiro de mudas da Prefeitura de São Paulo, localizado do outro lado da Rua do Matão. Antes da rua existir, as duas áreas florestais eram contínuas. “Esse então, coitado! Estava pior ainda”, diz Vania em relação ao viveiro de mudas. Em 20 anos, a palmeira australiana se espalhou pelo viveiro de mudas e tomou tudo. Não havia uma espécie na área que não fosse ela antes do projeto de manejo começar.

A demora deve-se ao fato de o projeto ter passado por três instâncias, a Coordenadoria do Campus da Capital, a Prefeitura de São Paulo e a Secretaria do Meio Ambiente do Estado. A importância do projeto fez com que uma portaria na Prefeitura municipal fosse criada só para atendê-lo. Hoje essa portaria se estende também para casos parecidos, porque o manejo de plantas invasoras por outras nativas não era previsto em lei. Uma situação semelhante é a do Parque Trianon, na avenida Paulista, que também é uma reserva de Mata Atlântica e que foi invadido pela mesma palmeira. A portaria recentemente criada usará a experiência da Cidade Universitária para resolver o problema do parque. Uma lista, inclusive, foi feita pelo Governo do Estado e pela Prefeitura com todas as espécies invasoras que devem ser manejadas e a palmeira australiana está entre elas.

O manejo consiste no corte dessas palmeiras e no plantio imediato de outras nativas. Mas a densidade da mata e a inclinação do relevo da região dificultaram um pouco o trabalho. “Cortar a palmeira inteira e ir arrastando pelo chão iria detonar a floresta inteira”, esclarece Vania. A solução encontrada foi cortar apenas a copa das árvores, deixando no local as partes verdes das folhas, que servem de adubo para o solo, e o tronco. A professora descreve a mata depois do manejo como um grande paliteiro, por conta dos troncos: “A gente sabia que ia ficar feio, mas é por um tempo”. Eles vão apodrecendo, servindo de matéria orgânica para outras plantas e como moradia para alguns tipos de aves, como pica-paus. Outra ideia para solucionar a questão é o uso de herbicidas, que atuariam apenas na planta, mas ainda estão sendo testados. “Futuramente, para manutenção, seria melhor que a gente tivesse um método melhor, porque está sendo bem trabalhoso e caro.”

As mudas devem ser plantadas logo no lugar das antigas palmeiras australianas para que um buraco não seja formado na mata. Essas plantinhas, depois de fixadas no solo, recebem uma atenção especial para garantir seu crescimento. Trepadeiras e formigas são o principal risco para elas nessa primeira fase de vida na mata. Vania está otimista, porque a floresta tem se recuperado bem. Naturalmente, espécies como o Guapuruvu fecham os buracos deixados e impedem que novas invasoras se instalem.

Uma empresa foi contratada por licitação para fazer o trabalho e dois terços do manejo já foram feitos. Para as seis mil palmeiras que serão retiradas, foram compradas dez mil mudas de plantas nativas.

O projeto tende a se expandir. “A ideia é ir aos poucos ampliando esse manejo, porque não adianta você tirar daqui se ali ainda tem.” Uma segunda etapa do projeto faria o manejo em toda a Cidade Universitária e posteriormente no Instituto Butantã. Conscientizar o bairro também está nos planos da professora Vania, porque muitas casas têm a palmeira em seus jardins. A expansão faria o manejo também de outras plantas invasoras, não só da palmeira australiana.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br