São Paulo (AUN - USP) - “O Brasil não cresce há 20 anos, nem afunda”. Apesar do discurso corrente do vigoroso crescimento da economia do País, essa foi a declaração de Mário Bernardini, diretor do Departamento de Competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) durante evento. Esteve também presente Maria Helena Zockun, coordenadora de pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) no debate sobre Custo Brasil organizado pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP recentemente.
Segundo Bernardini, ao comparar o PIB do Brasil com os países do G7 e sua participação no grupo, verifica-se que o País apresenta crescimento relativamente constante, diferentemente da China que apresenta índices cada vez mais altos, justificando sua denominação de país emergente. Já os EUA, apesar de também não crescerem, mantêm-se no topo. “O governo acha que está fazendo sua parte”, diz Bernardini. Para ele, o slogan, “Inovar para competir, competir para crescer”, do Governo Federal está errado. O certo seria “baixar preços para competir, inovar para manter”.
Bernardini acredita que alguns fatores foram fundamentais para a queda de competitividade da indústria brasileira, que vem se agravando desde 2004. Entre eles estão o aumento dos custos para produção e a forte apreciação cambial. Devido a tudo isso, segundo ele, as empresas passam a importar em vez de produzir, levando ao fenômeno de desindustrialização.
Ele aponta que o Custo Brasil, que é a diferença de se produzir aqui ou em outros países, afeta bastante a competitividade, sendo que, dos fatores que provocam esse aumento, dois terços são representados por insumos e juros. Bernardini defende que é necessário atacar as prioridades que, segundo ele, seria administrar o câmbio para o piso. Ainda que se resolva burocracia, logística, os efeitos sobre o Custo Brasil não seriam tão expressivos.
Já Maria Helena acredita que a inovação e o investimento massivo em Pesquisa e Desenvolvimento dentro das empresas sejam a solução para aumentar nossa competitividade: “Poderíamos diferenciar nossos produtos para que o preço não seja o único fator de competição”. Segundo ela, alterar o patamar da taxa de câmbio é muito difícil, pois trata-se de uma questão macroeconômica que envolve muitos setores.
Entretanto, a inovação acaba sendo relegada ao segundo plano, apesar de representar uma saída. Muitas empresas deixam de contratar profissionais para pesquisa, pois o retorno financeiro ao se contratar um advogado tributarista é muito maior. Segundo Maria Helena, isso acontece porque o sistema tributário brasileiro não é claro nem transparente. Ela conta que, no Brasil, uma empresa média chega a gastar 2.600 horas por ano lidando com questões tributárias. Em países desenvolvidos, esse número gira em torno de 183 horas.
Para ela é fundamental a simplificação do sistema. “A legislação é tão vaga que fica fácil incorrer em erro e, quando se consulta o fisco, raramente se obtém resposta.” Além disso, as modificações das normas tributárias são muito numerosas: desde 1988, houve 275 mil modificações, sendo que atualmente só 7% delas estão em vigor. Porém, para mudança, ela destaca que é preciso pressão e, para tanto, a sociedade tem que estar consciente de que esse problema existe e do que ele representa. Maria Helena acredita que se deveria tributar o consumo e não a exportação ou produção, estabelecendo-se uma alíquota única sobre consumo e taxa de renda. “Essa questão é tão antiga que a primeira vez que eu escrevi sobre o assunto foi em 1980.”