São Paulo (AUN - USP) - Como viviam os primeiros habitantes do Brasil? Quais eram seus costumes, suas atividades? Que doenças tinham? O que comiam? Essas e outras questões despertam a curiosidade dos visitantes da exposição de paleopatologia “Doenças na Pré-História” que acontece a partir deste mês no Instituto de Biociências.
Estão à mostra ossos com idades entre 10 mil e mil anos acometidos por algum mal ocorrido durante a vida do indivíduo. Essas amostras foram retiradas de sambaquis fluviais, como o do Vale do Ribeira (SP) e litorâneos, como o de Jaboticabeira II (SC). Os sambaquis apresentam conglomerados de conchas entremeados por areias e terras de diferentes colorações e são originados a partir de atividade humana. Em muitos são encontrados sepultamentos.
O tecido ósseo reage a diferentes fontes de estresse, entre elas traumas e patologias. As respostas podem ficar gravadas nos ossos em forma de reentrâncias e saliências. Fezes fossilizadas revelam o tipo de alimentação e de parasitas intestinais. Restos de comida nos dentes também informam mais sobre as dietas. Antes de reconstruir o modo de vida dessas populações e descobrir as enfermidades que as acometiam é necessário distinguir as alterações nos ossos ocorridas depois da morte do indivíduo das ocorridas em vida, e determinar o gênero e a idade com que ele morreu, segundo Sabine Eggers, professora do departamento de Biologia do IBUSP.
A análise dos esqueletos de nossos antepassados comparada às observações médicas feitas nos pacientes de hoje permite identificar enfermidades daquele período. Na exposição podem ser vistas algumas inflamações, patologias causadas por processos endócrinos, sífilis, entre outras.
Os achados arqueológicos, como instrumentos encontrados nas proximidades dos sepultados, possibilitam a especulação sobre as principais atividades dos donos desses esqueletos. Tais suposições são corroboradas pela comparação da estrutura óssea de praticantes atuais de “exercícios” semelhantes. Membros superiores desenvolvidos em sambaqueiros próximos ao mar sugerem atividades com remos ou pesca, por exemplo.
Quanto aos traumas é possível diferenciar os acidentais dos de combate e se foram responsáveis ou não pela morte. “O esqueleto é como um raio X tirado da pessoa antes de morrer e de vários momentos da vida dela” salienta Sabine. A baixa incidência de traumas nos sambaqueiros sugere que eram pacíficos ou, pelo menos, que não precisavam brigar por recursos.
Sabine tem a intenção de levar atividades de arqueologia às escolas públicas de ensino fundamental e médio. “Através delas é possível unir todas as matérias”. Cita o cálculo da freqüência de determinadas doenças, o ensino do valor do patrimônio histórico e até o aprendizado da importância de escovar os dentes como aplicação prática aos alunos. “As crianças adoram ver os esqueletos” relembra a experiência realizada em duas escolas.
A exposição acontece na Biblioteca do IB
De segunda a sexta, das 8h30 às 21h30, até 2/7
Rua do Matão, 303 – Cidade Universitária
Atividades nas escolas
Sabine Eggers –saeggers@usp.br
3091-7588
Os painéis da exposição foram elaborados pela Profa Dra Sheila Mendonça e cedidos temporariamente pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro, (FIOCRUZ). Os espécimes do Vale do Ribeira (SP) e Jaboticabeira (SC) foram escavados por equipes multidisciplinares financiadas pela FAPESP, sob coordenação do Prof Dr Levy Figuti (MAE) e dos professores doutores Paulo de Blasis (MAE), Maria Dulce Gaspar (Museu Nacional do Rio de Janeiro), Paul e Suzanne Fish (Universidade do Arizona).
A curadoria e análise foram realizados pela equipe do Laboratório de Antropologia Biológica (Profa Dra Sabine Eggers), com apoio financeiro da FAPESP e da CEPID- Centro de Estudos do Genoma Humano.
Os demais espécimes provém de escavações realizadas pelo Prof Dr Marco de Masi , com a curadoria e análise da equipe do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (Prof Dr Walter Neves), também com apoio financeiro da FAPESP.