São Paulo (AUN - USP) - Poucas pessoas sabem, mas roncar significa muito mais que noites mal dormidas, para roncador e seu companheiro de quarto. Quem faz isso pode apresentar uma doença chamada apnéia obstrutiva do sono, que se caracteriza pelo estreitamento da faringe que ocorre devido ao relaxamento dos músculos da garganta durante o sono e ao acúmulo de gordura na região. Sabe-se que 30% das pessoas que roncam apresentam essa doença. Nos últimos anos, estudos realizados na área do sono mostraram que além de levar a um débito de sono, a apnéia pode causar pressão alta (hipertensão arterial sistêmica), infarto, derrame, arritmia e insuficiência cardíaca.
Pesquisas recentes, tanto no exterior quanto no Laboratório do Sono do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP, coordenado pelo médico. Geraldo Lorenzi Filho, tentam descobrir a relação entre apnéia obstrutiva do sono e doenças cardiovasculares. Estudo populacional feito nos Estados Unidos mostra que 4% da população masculina e 2% da feminina sofrem de apnéia do sono e, conseqüentemente, de sonolência e depressão. Entre as pessoas com a doença, 50% são hipertensos. Além disso, evidências levam a acreditar que os pacientes com apnéia têm mais riscos de infartar, de ter derrames cerebrais e arritmias, e desenvolver insuficiência cardíaca.
Das pessoas hipertensas, 38% possuem síndrome da apnéia obstrutiva do sono, sendo ela a segunda maior causadora da pressão alta. Isso acontece porque a pressão arterial aumenta quando a faringe fica obstruída, podendo levar à disritmia e à falência do ventrículo esquerdo do coração. A apnéia aumenta em duas vezes as chances de se desenvolver uma insuficiência cardíaca.
Um estudo que está sendo realizado pelos médicos Luciano Drager e Luiz Bortolotto, cardiologistas da Unidade de Hipertensão do Incor, procura uma relação entre a rigidez das artérias e apnéia obstrutiva do sono. Utilizando-se um aparelho denominado Complior, os pesquisadores determinam a chamada velocidade de onda de pulso, através do posicionamento de dois sensores mecânicos. Um deles monitora a passagem do sangue arterial da região do pescoço até a região da perna, conseguindo-se uma média da velocidade com que o sangue circula. Isto dá uma forma indireta, porém muito confiável de medida da rigidez arterial. Quanto mais rápido o sangue correr, mais rígida estará a artéria. Resultados preliminares sugerem que a apnéia acelera esse enrijecimento, uma vez que isso acontece à medida que envelhecemos.
As constatações dessas pesquisas levam não somente a resultados científicos, mas também sociais, pois a falta de sono é um problema social. Não dormir direito traz conseqüências muito mais graves do que imaginamos: adormecer de repente enquanto se dirige um carro pode causar acidentes fatais, a produtividade no trabalho diminui, a desatenção aumenta podendo levar a algum erro mortal da parte de médicos de plantão, por exemplo, além de fazer com que o ânimo e a disposição se reduzam.