ISSN 2359-5191

14/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 43 - Meio Ambiente - Instituto de Física
Cooperação entre instituições nacionais e estrangeiras busca entender o funcionamento complexo da Amazônia
Programa do governo reúne diversas organizações, pesquisadores e projetos instalados na região

São Paulo (AUN - USP) - Como a Amazônia funciona sendo ela uma entidade regional integrada formadora de um sistema extremamente complexo? Como se dá a interação de seu ciclo da água, do carbono, seus nutrientes? Como mudanças no uso da terra e no clima podem afetar as funções biológicas, químicas e físicas da floresta? São perguntas que o professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), Paulo Eduardo Artaxo Netto vem se fazendo, juntamente com milhares de pesquisadores brasileiros e estrangeiros que integram o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA).

Iniciada em 1998 como um experimento, a iniciativa é, desde 2007, programa nacional do governo sob a coordenação científica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O LBA soma 156 projetos de pesquisa – 100 deles já finalizados – desenvolvidos em parcerias por 281 instituições nacionais e internacionais. O professor explica que, para estudar a floresta, o programa é dividido em alguns setores, por exemplo: química atmosférica – como compostos liberados vão parar na atmosfera; armazenamento e trocas de carbono; biogeoquímica; usos da terra e cobertura vegetal, entre outros.

Uma das descobertas mais importantes do LBA foi que a própria floresta controla o clima sobre ela, característica marcante de florestas tropicais. Paulo Artaxo dedica-se há um bom tempo à física do meio ambiente e procura entender como se dá a interação entre a floresta amazônica e a atmosfera: “A Amazônia é muito diferente das demais florestas no restante do planeta devido à interação muito forte entre ela e a atmosfera”, afirma. Ele explica que a floresta é a maior fonte de vapor d’água para o meio atmosférico – processo da evapotranspiração –, bem como de gases voláteis (carbonos e hidrocarbonetos).

Além de satélites que captam imagens da floresta como um todo, o projeto possui diversas torres de observação espalhadas pela região amazônica, em estados como Pará, Rondônia, Tocantins, Amazonas, além de áreas de Brasília. As torres abordam de forma integrada o comportamento climático geral e até a “microbiologia de cada folha individual”, conta Paulo Artaxo. Nas torres existem instrumentos que medem a velocidade do vento para cima e para baixo, muito rapidamente, e o professor explica que, fazendo isso, os pesquisadores conseguem saber se a floresta está perdendo ou ganhando gás carbônico.

Um dos estudos essenciais em curso envolve exatamente o balanço de carbono na Amazônia. Segundo Artaxo, a floresta deveria estar em equilíbrio, mas o que se observou, na realidade, é que ela está absorvendo o componente. Ele explica que uma das possíveis razões para o fenômeno é a maior concentração de CO2 no ambiente, o que possibilitaria a realização de uma fotossíntese mais eficiente pelas plantas e, consequentemente, elas reteriam mais carbono. “Mas essa é uma explicação simplista”, ressalva o professor, “porque nutrientes e radiação também são necessários para a fotossíntese e não tão fáceis assim de serem adquiridos”. Ou seja, um aumento na concentração de gás carbônico não seria suficiente para otimizar tanto assim a fotossíntese das plantas. Ele afirma que ainda hoje eles não conseguiram explicar com precisão o porquê desse aumento na absorção de gás carbônico.

Por outro lado, um dos trabalhos prevê que, quando a floresta passa por um “estresse hídrico”, ela deixa de absorver CO2 e passa a emitir o gás na atmosfera. “Existe um link entre ciclo do carbono e clima da Amazônia que é muito forte e diferente”, afirma Artaxo. Como experimento, em Santarém e na Floresta Nacional de Caxiuanã, as árvores foram cobertas com placas para que não tivessem acesso à água. Resultado: as florestas podem ser relativamente resistentes a secas sazonais, mas começam a morrer após alguns anos sucessivos de escassez hídrica. Nesse momento, a perda de carbono começaria a ficar mais significativa.

O físico ressalta a importância dessa pesquisa porque em 2005 e 2010 houve duas importantes secas na Amazônia. “Com dois únicos eventos ao longo de cem anos não se pode dizer que vemos a desestabilização do clima na região amazônica, mas isso seguido de cheias em 2009 e 2011 pode indicar que há algo acontecendo”, alerta. Ainda segundo Artaxo, se os modelos climáticos estiverem certos em prever uma queda na precipitação, a Amazônia vai passar a liberar mais carbono na atmosfera.

Outra questão importante seria o papel da Amazônia no transporte de vapor d’água para a América do Sul. O vapor vem dos oceanos, é “processado” na região da floresta e vai para o sul, influenciando, por exemplo, a agricultura do Sudeste. “Basicamente 50% da água que entra na Bacia Amazônica gera chuva e volta para o Oceano Atlântico, mas outros 50% passam e são algumas das principais fontes de umidade do sul do continente”, explica Paulo Artaxo.

O pesquisador conclui que uma questão-chave no clima amazônico são as emissões de gases provenientes de queimadas. “Nossa floresta tem bastante água, não pega fogo sozinha como acontece na Sibéria”, explica. “Aqui o fogo é causado pelo desmatamento, sobretudo no final de abril e começo de maio”. Artaxo ressalta também que, felizmente, a Amazônia tem tido um histórico bom na redução dos desmatamentos e acredita que, se o Novo Código Florestal não alterar essa trajetória, podemos reduzir em 80% o desmatamento da região, compromisso assumido na 15ª Conferência das Partes (Cop-15) da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em 2009.

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