São Paulo (AUN - USP) - O governo técnico implantado na Itália, presidido por Mario Monti, foi uma tentativa de abrandar a crise que atinge o país, prejudicando toda a União Europeia, que também se encontra fragilizada política e economicamente. No entanto, Kai Lehmann, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, ressalta: “A situação na Itália é um pouco diferente, pois além dos problemas financeiros, o então primeiro ministro estava muito enrolado com outros supostos escândalos. Sendo assim, temos que tomar cuidado de falar sobre todos os casos como se fosse um”.
Mesmo assim, o fato da Itália ter um governo técnico mostra os problemas que o país está enfrentando. Esse governo instalado, entre outras coisas, para implementar um programa de austeridade em relação à moeda única mostra a influência da União Europeia, mas o fato do país ter chegado a essa situação crítica é reflexo da fraqueza das instituições e mecanismos do bloco. “A organização não age mais, somente parece reagir o tempo todo”, afirma Lehmann.
Para ele, em termos democráticos, governos técnicos são problemáticos. “No caso da Itália, o governo atual está implementando alguns dos cortes de gastos mais severos da história recente do país, sem ter qualquer tipo de legitimidade democrática”, explica o professor. Esse tipo de governo, que surge quando um país está passando por uma grave crise, propicia a retirada das considerações políticas na tomada de decisões. Não há a mesma necessidade de levar em consideração os partidos e os jogos eleitorais, enquanto um governo democrático sempre tem que pensar na próxima eleição. Lehmann completa: “Esses governos têm poucas coisas a perder: caso eles tenham sucesso, ótimo; caso não, é a culpa dos governos anteriores.”
Mesmo assim, Lehmann acredita que a instalação desse tipo de governo não é o suficiente para sanar uma crise. Ele aponta: “Os problemas atuais são o resultados de décadas de políticas fiscais irresponsáveis por parte de vários governos. São necessárias reformas estruturais profundas, o que nenhum governo vai conseguir fazer em alguns meses”.
O professor explica que ainda não existe uma estratégia para estimular o crescimento econômico dos países mais afetados, nem uma estratégia clara para salvar a moeda única, seja na forma atual ou dentro de um novo contexto. Apesar de existirem várias opções para tentar salvar a União Europeia, como implantar um novo pacto fiscal, a criação de um governo econômico europeu, a saída de alguns países do bloco, entre outros. Mesmo assim, Lehmann conclui: “Os membros da zona do euro têm que, em primeiro lugar, decidir para onde eles gostariam de ir, antes de decidir como eles vão chegar lá”.