São Paulo (AUN - USP) - A investigação das causas da baixa adesão do uso diário do fio dental por parte de crianças e adolescentes foi realizada por um estudo feito por meio de um programa de estágios do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria da USP. O trabalho pretendia tomar conhecimento dos fatores que agravam esse quadro e, a partir daí, incentivar a melhoria do mesmo. Ao todo, foram analisadas 36 crianças de cinco a oito anos de idade e 59 adolescentes de 10 a 18 anos. Orientado pela professora doutora Mariana Minatel Braga, o trabalho teve início em 2009, e foi exposto na XIX Reunião de Pesquisa da FOUSP, que ocorreu entre os dias 29 e 31 de maio. Dentre os realizadores da pesquisa estavam alunos de iniciação científica e da pós-graduação.
A higienização bucal com o fio tem como objetivo a remoção da placa dentária acumulada principalmente entre os dentes, região onde a escovação não é suficiente para a limpeza. A placa, conhecida também como biofilme, é “um concentrado de bactérias e restos de alimentos”, segundo uma das autoras da pesquisa, Juliana Mattos-Silveira. A partir de seu acúmulo é que são desenvolvidas, principalmente, a cárie e a gengivite. Juliana explica que na literatura científica é possível encontrar estudos acerca da baixa adesão do fio dental por parte de crianças e adolescentes, mas eles não investigam as causas desse problema, que é de grande importância para a saúde bucal. “O que a gente vê, principalmente, é que os estudos levantam só a quantidade de crianças que usam e que não usam [o fio]. Mas não tem nenhum estudo que justifique, que veja o real motivo.”
O método da pesquisa baseou-se em diversas etapas de análise. A primeira delas era o exame clínico das crianças e adolescentes, todos eles pacientes da Clínica Odontológica da faculdade, que sediou o processo. Após a análise da higiene bucal por parte de dois examinadores, outro integrante era responsável por aplicar um questionário aos participantes: Usavam diariamente o fio? Já haviam recebido orientação para o uso? Havia dificuldades? Esqueciam de passar? Tinham preguiça? Logo após o questionário, era solicitado ao indivíduo que usasse o fio dental. Foi constatado que apenas 7% das crianças passaram corretamente.
Os resultados encontrados por meio de associações estatísticas apontaram para a preguiça (56%) e a falta de orientação (67%) como fatores significativos para o não uso do fio por parte de crianças. Ambas as causas identificadas têm relação direta com fatores motivacionais. A partir disso, o estudo propõe que sejam encontrados meios de incentivo ao uso do fio dental. “A gente vê que, tanto os dentistas num geral, quanto as famílias, precisam estimular mais.” Juliana aponta que, além da orientação clínica, que muitas vezes “acaba deixando o fio dental em segundo plano”, o estímulo nas escolas também deve ser aprimorado. Segundo ela, “a orientação na escola é bem direcionada à escovação. O fio dental é pouco incentivado”.
Já a respeito dos adolescentes, não foi possível a obtenção associações entre as variáveis estudadas. Juliana explica que o viés apresentado pode ter relação com as diferentes condutas da criança e do adolescente frente ao questionário sobre higiene bucal, sendo que o segundo possui uma maior tendência a não relatar a realidade dos fatos, enquanto que a criança geralmente responde de forma mais natural.