São Paulo (AUN - USP) - Respirar o ar de 2050. Algumas plantas já conseguem passar por isso, graças às “câmeras de topo aberto” – ou OTCs, (do inglês, Open-Top Chambers) – instaladas no bosque do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). A equipe, que conta com o botânico do Instituto, Marcos Buckeridge, consegue simular nas câmeras a concentração de gás carbônico prevista até agora para 2050 pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC): 750 partes do gás por milhão. Buckeridge conta que o mecanismo, elaborado em parceria com a Escola Politécnica da Universidade (Poli), permite aumentar as taxas de concentração de gás carbônico a níveis bem altos e “fica mais fácil de ver estatisticamente os efeitos disso”, explica. A câmera é construída a partir de anéis metálicos circulares e feita de um plástico especial que possibilita a passagem da luz do sol e eleva a temperatura do ambiente. No topo aberto, um sistema puxa o ar atmosférico para dentro e, na parte inferior, gás carbônico é injetado. Até agora, os estudos foram realizados com plantas menores e em condições de abundância de gás carbônico, água, luz e nutrientes. Segundo o pesquisador, a intenção agora é tentar experimentos com árvores inteiras e em condições reais, em que os elementos essenciais para a sobrevivência das plantas variam. Para isso, seriam necessárias “câmeras grandes para poder manipular uma árvore de jabotá inteira na Amazônia”, afirma Buckeridge. As “câmeras de topo aberto” são mais uma iniciativa para se tentar entender os possíveis impactos causados pelas mudanças climáticas, cuja ocorrência, para o botânico, é certa. Embora alguns teóricos da academia contestem, ele é incisivo: “A mudança climática existe”, bem como o aumento da concentração de gás carbônico. Buckeridge conta que, quando a sociedade começou a utilizar petróleo, pouco antes do século 20, o combustível foi se tornando tão importante que acabou minando tentativas de aplicação do etanol que existiam. Segundo ele, em 1933, pouca gente sabe, mas no nordeste brasileiro havia cidades com bombas de álcool e carros funcionando à base desse combustível. “Os magnatas do petróleo acabaram fazendo um dumping com motores movidos a álcool”, conclui o pesquisador. Toda essa história Buckeridge usa para ilustrar a impossibilidade em se retroceder nos sistemas já alcançados. Para ele, o que tem que ser feito agora é pensar em torná-lo cada vez mais sustentável. “O mundo é um transatlântico. Se, de repente, você muda a velocidade, derruba várias coisas lá dentro, é preciso ir com cuidado e cautela”, ilustra. O botânico afirma que, nesse momento, para ele, se é ou não o homem que está aumentando a concentração de gás carbônico no mundo, isso não é o mais relevante. O fato é que o fenômeno está acontecendo e relaciona-se diretamente com o aumento da temperatura global. “Do ponto de vista de achar responsáveis, claro que interessa, mas agora, com o transatlântico andando, é preciso trabalhar com os impactos”. E são eles que estão sendo analisados nas OTCs.