São Paulo (AUN - USP) - Os laboratórios da USP têm investido em pesquisas que visam desvendar algumas das interações entre glicocorticóides, estrógenos e determinadas proteínas (a se citar a Wnt, a ß-amilóide e a ɑ-sinucleína) a fim de descobrir algumas novas terapias neuroprotetoras. Em palestra recente, no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), Cristóforo Scavone, do Departamento de Farmacologia Molecular, explica que controlar o processo de neurogeneração é extremamente complicado, pois ele pode ser provocada por mecanismos moleculares diversos.
Segundo Scavone, o processo de neurodegeneração acontece porque o sistema nervoso central possui alta vulnerabilidade ao estresse oxidativo, devido a sua grande necessidade de energia e alta taxa de consumo de oxigênio (O2). Além disso, ele é rico em aminoácidos sensíveis à peroxidação e possui altos níveis de metais de transição. Tudo isso faz com que a neurodegeneração seja não só inevitável como também irreversível.
O estresse crônico imprevisível pode induzir sinalizações inflamatórias no sistema nervoso central. No processo de envelhecimento, são essas alterações que estão associadas à ocorrência das doenças neurodegeneraticas como o mal de Alzheimer e também o Parkinson. Há de se citar que drogas de abuso (a exemplo da cocaína) também podem induzir tais inflamações.
Para explicar esse processo, Scavone destaque o glutamato (também conhecido como ácido glutâmico), que é um dos vários aminoácidos codificados por nosso genoma. Caracteriza-se por ser o principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso, sendo o responsável pela estimulação de aproximadamente 70% das sinapses celulares. Ele fica armazenado em vesículas e é liberado na célula pré-sináptica através do impulso nervoso. Essa liberação ativa os receptores do neurônio pós-sináptico (chamados de receptores NMDA), e estes se ligam ao glutamato, viabilizando a neurotransmissão.
As células nervosas e as células da glia - células não-neuronais que integram o sistema nervoso central a fim de dar surporte e nutrição aos neurônios – possuem transportadores de glutamato em suas membranas. Esses transportadores retiram o aminoácido rapidamente do espaço extracelular. Quando há danos ou doenças cerebrais, entretanto, estes transportadores podem funcionar de maneira reversa, gerando uma acumulação de glutamato no espaço externo à célula.
O excesso de ácido glutâmico no espaço extracelular provoca a entrada de ions de cálcio Ca2+) nas células, através dos receptores NMDA, implicando problemas neuronais. Quando há ainda danos em mitocôndrias ou repressão dos fatores de transcrição de genes antiopoptóticos, pode-se dizer que a célula provocará a sua morte. A este processo damos o nome de excitotoxicidade.
Apoplexia e isquemia cerebral são dois exemplos de patologias em que podemos presenciar excitotoxidade decorrente da acumulação de glutamato. Pode-se afirmar ainda que a excitotoxidade está relacionada a doenças como esclerose lateral amiotrófica, latirismo e mal de Alzheimer. Por esse motivo, muitos pesquisadores afirmam que o glutamato está diretamente ligado às funções cognitivas do cérebro, como aprendizagem e memória.
Segundo Scavone, que está à frente de tais pesquisas, estudos in vitro e in vivo têm sido realizados com o emprego de métodos bioquímicos para determinar a atividade de enzimas envolvidas na sinalização celular. Também têm sido estudadas a atividade dos fatores de transcrição, a expressão do RNAm e a expressão de proteínas envolvidas na resposta inflamatória.
Algumas estratégias moleculares já estão sendo empregadas pelas pesquisas, a exemplo do uso de RNA de interferência, a criação de vetores de sinalização e vetores virais. A pesquisa é nova, mas acredita-se que em breve ela já descobria possíveis alvos para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas.