São Paulo (AUN - USP) - Na tentativa de identificar a presença de substâncias tóxicas nos peixes consumidos pela população, e de evitar o risco de envenenamentos e intoxicações em larga escala, o grupo de pesquisa chefiado pelo Professor José Carlos de Freitas, diretor do Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar-USP), estuda os pescados e frutos do mar do litoral paulista.
Toxinas são substâncias encontradas nos seres vivos que podem produzir envenenamentos ou intoxicações alimentares no homem e em outros animais. As toxinas mais freqüentemente encontradas em ambientes marinhos são a tetrodoxina (TTX) e a saxitoxina (STX), cujos efeitos são bastante semelhantes: paralisia, perda do controle muscular e problemas respiratórios. Essas toxinas não têm sabor, cor ou odor e são resistentes à fervura. Contudo, sua ação é determinada pela quantidade. Muitas vezes, mesmo estando presentes, as toxinas não chegam a provocar danos ao indivíduo.
As toxinas venenosas aparentemente não oferecem sério risco no litoral brasileiro, pois existem em quantidades residuais, ou seja, porcentagens inicialmente pequenas mas cumulativas. Já em outros países existe um controle sanitário dos pescados bem sucedido (como nos EUA, Japão, Filipinas e Coréia), porque estes possuem um histórico representativo de envenenamentos fatais. O Brasil não possui muitos casos de envenenamento registrados, porém há certas espécies de peixes que merecem cuidados extras, como registraram as pesquisas do professor e de seus orientandos.
A família dos baiacus é conhecida há muito tempo como venenosa devido à presença de TTX nos tecidos e glândulas na pele específicas, capazes de secretar essa substância, para se defenderem de possíveis predadores. "O baiacu pintado, como afirma um estudo recente do Instituto de Biociências (IB-USP) em parceria com o Cebimar, apresenta toxicidade sempre acima dos níveis tolerados internacionalmente, sendo considerado extremamente venenoso", completa o professor.
Além disso, José Carlos ressalta que levantamentos de toxicidade começaram a ser praticados no Brasil somente há pouco tempo em certas áreas do litoral paulista, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, mas que "faltam estudos de monitoração dessas toxinas ao longo do litoral brasileiro, principalmente em áreas costeiras onde os mariscos são cultivados para o consumo humano". Já existem testes específicos para carne de peixe e de mariscos que tem como base ensaios "padrão internacional" utilizando camundongos. No entanto, é essencial a realização de mais testes e de cuidados científicos prévios ao consumo. Para tanto, o Cebimar já realiza um exame eletrofisiológico em algumas espécies de peixes e está propondo junto à Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) um projeto que contempla o monitoramento toxinológico do pescado que é consumido pela população, dentro do programa de Políticas Públicas.