São Paulo (AUN - USP) - Constituir e fazer crescer uma start-up de alta tecnologia principalmente no Brasil, mas também no exterior, é um grande desafio. Essa foi a mensagem de Levindo Santos, que era diretor de executivo do grupo de Investimento Banking da Morgan Stanley nos EUA, e ao voltar para o Brasil com a crise de 2002 resolveu se arriscar como venture capitalist. A palestra foi parte da Profuturo Digital Fórum da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.
Segundo ele, o ecossistema empreendedor possui três componentes: conhecimento, capital e gestão. Logo em 2003, Levindo iniciou seu trabalho de prospecção de investidores, apresentando sua ideia e sua capacidade de gestor. Por fim, conseguiu montar um fundo de investimento e passou a receber planos de negócios que eram analisados por sua equipe. De 245 planos, 12 propostas de investimentos foram feitas, 8 de fato foram alocadas. “É uma proposta de alto risco, espera-se um alto retorno”, disse ele a respeito do investimento. Venture capital trata-se de uma modalidade mais arriscada do capital de risco pois investe em empresas que geralmente estão em seu estágio inicial ou cujos negócios não foram ainda plenamente testados e cujo lucro é incerto. No seu caso, as duas variáveis eram verdadeiras: investimento em start-ups de alta tecnologia.
Levindo contou um pouco de sua trajetória para explicar o porquê, após alguns anos gerindo o fundo de investimento, decidiu que não faria uma segunda vez. Segundo ele, as dificuldades são muitas e para entender melhor o que acontecera e porque não tinha dado certo, resolveu fazer uma tese de mestrado. “Depois do meu fracasso no fundo, tinha que tentar entender, explicar”.
Das oito start-ups nas quais alocou recursos, uma faliu após um ano de investimentos. Levindo contou que quando isso acontece há um “grande abalo interior”, insegurança. Outra, que era uma empresa de tecnologia da informação, foi um caso de sucesso parcial: ao vender sua parte para uma empresa maior, ela acabou não sendo muito beneficiada. Além disso, seu retorno não foi correspondente ao risco que correu.
Levindo explicou que a venda da participação é não só seu direito como uma necessidade, visto que o fundo de capital tem data marcada para acabar: “Captamos recursos, temos 3 anos para investir e 5 para sair das empresas.” Segundo ele, isso é necessário para gerar liquidez para o fundo, pois ele está gerindo dinheiro de terceiros e deve agir de acordo com o estatuto pré-fixado.
Outro caso foi uma start-up de soluções em nanotecnologia. Na época em que conheceu a equipe da empresa, eles tinham um “barraco” como eles chamavam. “Eles tinham essência, eu banquei a forma”, disse Levindo que conta, com orgulho, que, em 2007, viu a empresa receber o prêmio Finep de Inovação. Contudo, este é também um caso de decepção: o negócio cresceu, a empresa era rentável, seus donos estavam satisfeitos e acabaram se acomodando. Ao sair da empresa, Levindo fez questão que registrassem em ata que “no dia do barracão, combinamos fazer o extraordinário e sinto perceber que estamos fazendo o simples e o ordinário”.
Três ‘As’ são fundamentais ao empreendedor: aspirações, atitudes e ações, afirmou ele. Mas, acima de tudo, é preciso uma sociedade empreendedora, pois, segundo ele, o ambiente que permeia a economia de qualquer país afeta qualquer atividade desse gênero. E no caso do Brasil o desafio é grande, segundo Fernando Dolabela, criador de programas de ensino da área e citado no evento por Levindo, “o Brasil é possivelmente o país que oferece os maiores desafios para empreendedorismo no mundo”.
Alguns requisitos básicos para uma sociedade empreendedora como instituições, infraestrutura, saúde, educação primária, estabilidade macroeconômica foram apontados por Levindo. Além disso, considera o ambiente burocrático e regulatório do Brasil muito ineficiente. Para ele, porém, além de políticas públicas e governanças que venham a melhorar esses pontos, “As mudanças precisam ser incorporadas pela sociedade e no indivíduo, com o respeito à lei e o rejuvenescimento legislativo.”