ISSN 2359-5191

17/07/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 73 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Sucateamento da produção científica vira foco de pesquisa

São Paulo (AUN - USP) - O professor André Frazão Helene, além de suas pesquisas na área de cognição no Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da USP, se empenha em uma pesquisa sobre a produção científica no Brasil e o investimento que recebe. O objetivo é divulgar a discrepância que ocorre no país, onde a produção científica cresceu no período de crise no qual os investimentos diminuíram.

As investigações começaram quando o professor notou que o número de artigos publicados e de doutores formados crescia no Brasil enquanto os investimentos diminuíam, o que demonstra em números o que os pesquisadores já percebiam: o sucateamento da produção científica e do ensino superior.

A produção científica no Brasil é medida com base dos artigos publicados, “uma frase conhecida aqui é ‘publicar ou perecer’”, comenta o professor. O que aconteceu com a crise financeira foi uma necessidade por parte dos pesquisadores de publicar mais para conseguir verba para suas pesquisas, uma vez que os investimentos passaram a ser disputados. Essa necessidade de publicar mais não foi acompanhada por um crescimento de pesquisas, diminuindo a qualidade dos artigos publicados. No período estudado, de 1995 a 2010, a repercussão das pesquisas brasileiras no mundo diminuiu.

Outra consequência de necessidade desenfreada de publicar artigo é que o foco dos pesquisadores mudou: “Se você precisa publicar artigos, você não se preocupa mais em dar duas horas de aula”, lamenta. Para Helene, aquele que se preocupa em dar aulas no Brasil não é reconhecido por isso, não havendo nenhum incentivo, seja financeiro ou de prestígio. Para exemplificar essa situação, cita a iniciação científica. Hoje em dia, a preocupação maior dos estudantes é quando irão publicar seu primeiro artigo, não estando tão preocupados com a pesquisa em si. “Não é esse o objetivo da iniciação científica”, esclarece.

No período, os valores das bolsas de pós-graduação caíram para 30% do valor inicial. “Está mais barato fazer pesquisa por que eles estão pagando muito menos”. Outro fator que contribui é a falta de investimentos em equipamentos. O tipo de pesquisa feita no Brasil passou a ser um tipo mais barato, devido a todos os obstáculos financeiros impostos aos pesquisadores.

Mesmo assim, o professor procura por aspectos positivos. Um deles é que a internacionalização entre universidades aumentou: os pesquisadores passaram a publicar junto com grupos internacionais, uma vez que os investimentos nacionais não estavam sendo suficientes. “Normalmente, ficamos com a ideia da positividade da coisa e esquece que existe muito mais que isso.”

“Precisamos mudar o que estamos fazendo agora”, comenta. “O crescimento real da economia que temos agora faz parecer que o aumento da produção científica foi impulsionado por isso, mas não foi o que aconteceu por que as publicações aumentaram em época de crise.”

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