São Paulo (AUN - USP) - As recentes notícias que circulam na mídia e na internet a respeito da construção de guaritas elevadas na Universidade de São Paulo (USP) reacenderam uma série de discussões sobre um tema recorrente e bastante polêmico: a segurança da universidade. Em parceria com o Grêmio Politécnico, a Superintendência de Segurança da USP se colocou à disposição para esclarecer o novo plano. O evento não só fez parte do projeto “Politizados”, realizado pelo grêmio, como também integra uma tentativa da Superintendência de se aproximar do corpo estudantil.
“A construção do novo plano de segurança é totalmente participativa. Quanto mais gente quiser se envolver com isso, melhor será para todos”, afirma o coronel Jefferson de Almeida, representante da Superintendência no bate-papo. “Para nós, o que mais importa hoje é saber o que vocês pensam e querem. Nós nunca conseguiremos agradar, se não for assim”, diz.
Segundo o coronel, o foco é fazer não só a preservação do patrimônio mas a prevenção das milhares de pessoas que circulam pela USP todo dia. “O modelo de segurança que nós temos hoje seria extremamente eficaz se a Universidade fosse fechada. Mas a USP possui um caráter misto. Ela possui áreas comuns, que são públicas e devem ser acessíveis a qualquer cidadão de São Paulo, e também possui áreas restritas e que devem ser vigiadas (a exemplo dos prédios das faculdades)”.
O coronel também chama a atenção para o fato de que parte dos cuidados com a segurança deve partir da própria pessoa. “Por a USP ser um ambiente muito tranquilo e aconchegante, muitas pessoas acabam perdendo a noção de risco quando estão na Universidade, e não se preocupam tanto em deixar o notebook na mesa da lanchonete ou o carro sem o alarme ligado. Infelizmente, a gente não tem como proteger os alunos dos cidadãos livres, por isso é preciso conscientizá-los”, diz. Ao ser questionado sobre a Guarda Universitária, Jefferson de Almeida explica que trata-se de um orgão de autarquia e hoje não há de se falar em poder de polícia para ela. “A Guarda não possui poder legal para fazer ações de segurança pública e não acredito que isso deva mudar. Se for a vontade dos alunos, mudaremos, mas não é a nossa intenção”, esclarece ele.
O coronel explica ainda que a superintendência pretende desmistificar a ideia comum de a Guarda Universitária ser composta por pessoas despreparadas para lidar com os universitários. “Nós queremos uma guarda com a qual o estudante se sinta a vontade de se aproximar e conversar. A FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) tem nos ajudado a repensar o visual da guarda, a fim de torná-la menos intimidante aos alunos”, argumenta ele.
A Superintendência começou a trabalhar com os espaços de medos da USP. Fizeram uma pesquisa detalhada nos jornais de 2011 para descobrir quais são os lugares que mais despertam o medo dos alunos. “Curiosamente, as 3 áreas mais votadas não possuem registro de quaisquer crimes”, revela o coronel. O que interessa à Superintendência, portanto, é atuar nestes espaços e reurbanizar as áreas públicas – para reduzir o medo e evitar novas ocorrências de crimes. “E nós queremos fazer isso sem encher a Universidade de vigilantes ou câmeras”, afirma Jefferson, reforçando a ideia de uma segurança que não coaja os alunos.
O que a Escola Politécnica deseja para a segurança da USP
Após a morte do estudante Felipe Ramos Paiva, na Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP), em 2011, o Grêmio Politécnico realizou um plebiscito para apurar a opinião dos alunos sobre a segurança da Universidade.
Dos 538 votantes, 98,7% queriam que a USP fosse um lugar mais seguro. No que dizia respeito à Guarda Universitária, 77,76% dos alunos gostariam que ela pudesse portar armas de fogo para legítima defesa ou defesa de terceiros. A apuração também revela que 77,32% se mostraram a favor das armas de efeito moral - como balas de borracha, spray de pimenta e tasers, por exemplo. Há de se destacar também que 68,16% dos estudantes desejariam que fosse garantido à Guarda Universitária o treinamento adequado para que ela pudesse se transformar na responsável pela segurança pessoal na USP - até então ela é a responsável pela segurança patrimonial da Universidade.
Ao se apurar questões de infra-estrutura e acesso, 82,68% dos alunos acreditam que a instalação de câmeras pode melhorar a situação da segurança no campus - 91,99% no caso de câmeras instaladas nas áreas externas, 73,27% no caso de câmeras instaladas no interior dos prédios. Sobre o acesso ao campus, 30,65% dos estudantes são a favor de uma Universidade aberta apenas a professores, alunos e funcionários. No que diz respeito a monitoramento, 74,07% dos alunos gostariam que os visitantes fossem cadastrados antes de entrar na universidade. A fiscalização de pedestres agrada a 81,68% dos alunos, enquanto 80,82% apreciariam também o monitoramento de veículos. Além disso, 65,36% gostam da ideia de se monitorar os transportes públicos, se assim for viabilizada uma proposta.