São Paulo (AUN - USP) - A falta de regulamentação no trabalho de artistas mirins foi tema de uma pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP). Segundo o estudo feito por Sandra Regina Cavalcante, os cuidados a serem tomados com crianças e adolescentes envolvidos no meio artístico não são determinados por leis ou estatutos e, por isso, ficam sujeitos a critérios subjetivos de juízes, pais e até das próprias produções em que os menores trabalham.
Essa brecha na lei abre caminho para que abusos sejam cometidos com as crianças. “A grande maioria dos entrevistados, quer sejam artistas mirins, mães ou profissionais do segmento, reconhecem que já viram crianças e adolescentes serem explorados pelas mães nos bastidores de testes e gravações, principalmente no mercado publicitário, quando são forçados a participar mesmo sem estarem interessados”, complementa Sandra. Segundo a pesquisadora, nesses casos, a renda da família depende do incremento recebido com a remuneração da criança.
Mas a motivação dos familiares não é puramente econômica, explica a pesquisadora. As entrevistas realizadas com mostraram que eles acreditam estar tomando a decisão mais correta ao introduzir seus filhos ao trabalho de modelos ou atores. “O desconhecimento dos direitos e das necessidades reais dos seus filhos, aliado a interesses diversos como a vaidade e a crença de que ‘se dar bem na vida’ é conseguir sucesso e fama, leva as famílias a colocar em risco a saúde e boa formação de suas crianças e jovens”, explica Sandra. Características próprias do trabalho no meio artístico distanciam-no da noção de trabalho precoce, geralmente ligado a pessoas de classes mais baixas.
Sandra aponta, entretanto, para existência de um segundo grupo familiar, formado por pessoas de classes mais altas. Nessa situação, a entrada no mundo das artes é iniciativa da própria criança. Por isso, as famílias não se importam com a baixa remuneração dada pelos trabalhos e as despesas tidas com o serviço são custeadas pela própria família. “Esse grupo vislumbra a possibilidade da experiência trazer melhorias a autoestima, bem como segurança e habilidades que poderão ser usadas futuramente nas atividades profissionais e acadêmicas.”