ISSN 2359-5191

18/07/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 74 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Ciências Biomédicas
Instituto da USP investe em pesquisa com peptídeos celulares

São Paulo (AUN - USP) - Estudos recentes, realizados no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), mostram que as proteínas intracelulares, responsáveis por diversas processos biológicos, podem gerar peptídeos com funções específicas que são, ainda, desconhecidas. Atualmente, já foram identificados mais de 400 tipos diferentes destas moléculas. Algumas delas apresentam potencial utilização na produção de remédios para a resistência à insulina, dores, tumores cancerígenos e, até mesmo, a obesidade.

Iniciada em 1999, a pesquisa confirma, em seus primeiros resultados, a presença de peptídeos intracelulares. Segundo Emer Ferro, do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, essa descoberta traz um novo conceito para os estudos nessa área, pois antes acreditava-se que as proteínas eram digeridas até serem transformadas em aminoácidos, não sobrevivendo na forma de peptídeos no interior das células. “A única exceção seria os peptídeos que nós chamamos de antígenos (capazes de gerar resposta imune) associados à molécula MHC-I”, explica o pesquisador.

O tempo de vida médio (turn over) das proteínas presentes nos núcleos, mitocôndrias e citoplasma de uma célula é regulado por um complexo protéico, ao qual damos o nome de proteasoma(protease intracelular). O estudo revela que, nesse processo, é possível que haja a geração de vários peptídeos a partir das proteínas presentes no interior da célula.

“A pesquisa mostra de forma original que as células produzem naturalmente peptídeos capazes de modificar as redes de interação protéica. Embora seja simples, esse conceito nunca havia sido demonstrado anteriormente”, explica o pesquisador. Ferro ainda lembra o fato de as proteínas nunca agirem sozinhas dentro das células. São os complexos domínios de interação organizados por elas que os peptídeos em estudo irão modular.

Os peptídeos conseguem regular essas redes de interação, podendo controlar a captação de glicose pelas células, por exemplo. “Os peptídeos envolvidos na absorção de glicose estão diretamente relacionados à obesidade e à resistência de insulina, que se caracteriza pela dificuldade do organismo em absorver glicose”, explica Ferro. Segundo ele, essa descoberta permite aos cientistas vislumbrar toda uma nova maneira de agir terapeuticamente com estas patologias.

Mais peptídeos, mais fármacos
Alguns dos peptídeos que já foram identificados, nas pesquisas desenvolvidas em laboratório, vêm sendo testados em animais para a produção de novos fármacos. Um bom exemplo é a hemopressina que, segundo Ferro, apresenta a capacidade de reduzir a ingestão de alimentos e, dessa forma, diminuir a quantidade de gordura que é armazenada no corpo humano.

“Um outro exemplo é o AGH, peptídeo antinociceptivo [relacionado ao complexo trigemino-vascular] que vem sendo testado para controlar dores”, conta Ferro. Recentemente, o peptídeo WCT também foi descoberto pelos pesquisadores. Ele induz a apoptose, sendo capaz de eliminar células tumorais. Esse fato abre a possibilidade de seu uso para o tratamento de câncer. Segundo Ferro, os efeitos do RNA de interferência estão sendo analisados também. Esse RNA é responsável por regular os níveis de peptídeos envolvidos com a modulação do sistema adenérgico, que controla, por exemplo, os batimentos cardíacos.

As pesquisas recebem o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), do Napna (Núcleo de Apoio à Pesquisa em Neurociência Aplicada) – que é ligado à pró-Reitoria de Pesquisa da USP, e da Capes (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A expectativa é de que, dentro de mais alguns anos, os testes clínicos permitirão o uso dos fármacos por seres humanos.

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