São Paulo (AUN - USP) - A arqueologia ganha um novo aliado nas suas explorações do passado humano: a geofísica. Pesquisadores do IAG, na USP, desenvolveram em conjunto com o Museu de Arqueologia e Etnologia um paralelo entre propriedades físicas do solo e os tipos de vestígio arqueológico encontrado abaixo da superfície. A nova técnica funciona como o raio-X de um terreno, que orienta as escavações e evita desperdício de tempo e de trabalho.
“Fazemos medições de algumas propriedades físicas do solo, como o magnetismo, a condutividade elétrica e a radiação natural, ligadas a vestígios arqueológicos”, explica o professor Carlos Mendonça, um dos coordenadores da pesquisa. Segundo ele, os arqueólogos do Brasil enfrentam dois problemas principais: não saber ao certo a extensão de um sítio, por causa dos vestígios menos evidentes deixados pelos povos pré-colombianos, e descobrir a extensão dos sítios encontrados.
Uma vez descoberto um indício (ponta de lança, pedras lascadas), os pesquisadores fazem um levantamento topográfico centimétrico e delimitam pequenas áreas do terreno, identificadas por coordenadas. Depois realizam as medições e mapeiam o solo segundo as suas propriedades. “Usamos mais o magnetismo e a radiação natural: a condutividade elétrica não discrimina muito bem [as regiões do sítio]”.
Com os dados geofísicos em mãos, os arqueólogos vão direto ao ponto: se quiserem pesquisar os sepultamentos de um determinado sítio, escavam na região onde a radiação natural é menor. E a explicação para isso é química e arqueológica: os povos primitivos do nosso litoral e do Vale do Ribeira enterravam seus mortos em sambaquis, amontoados de conchas e outros materiais orgânicos. As conchas são compostas basicamente por calcário, que é um material com menor emissão de radiação que a média do solo.
Para se saber onde houve atividade humana o melhor índice é o magnetismo: Mendonça explica que onde houve atividades cotidianas como produção de fogueiras, o solo fica magnetizado acima da média.
Assim, de posse de um mapeamento geofísico, um arqueólogo pode concluir alguns aspectos de uma antiga civilização como o tempo que ocupou a região ou o tipo de organização espacial e orientar as escavações segundo o foco de seu estudo.