ISSN 2359-5191

18/08/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 08 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Pesquisa em bromélias desafia a fisiologia vegetal

São Paulo (AUN - USP) - As bromélias são plantas cada vez mais utilizadas na ornamentação de jardins e interiores. Apesar disso, pouco ainda se sabe sobre os cuidados necessários para seu cultivo. Após 15 anos de pesquisa e sete trabalhos de pós-graduação desenvolvidos, os pesquisadores do Laboratório de Fisiologia Vegetal da USP, localizado no Instituto de Biociências, descobriram novos processos metabólicos dessas plantas. Descobertas que podem indicar desde procedimentos corretos de adubação até novas formas de estudo e ensino em fisiologia de vegetais.

As bromélias geralmente são epífitas, ou seja, apóiam-se sobre outras plantas e árvores. Suas raízes servem apenas para a fixação, e a absorção de nutrientes depende de sua deposição sobre as folhas, através da chuva (nas bromélias que formam um tanque para armazenar água) e do vento (ou deposição seca). As pesquisas já fizeram um levantamento dos nutrientes preferenciais para essas plantas. São compostos de nitrogênio orgânicos (uréia), depositado por animais em suas excretas, e inorgânicos (nitrato e amônio), trazidos pelo ar.

A partir do cultivo de uma espécie de bromélia mais conhecida como barba de velho (Tillandsia usneoides), os estudiosos constataram que a enzima responsável pela transformação do nitrato em amônio, a nitrato redutase, não depende da luz do dia para atuar. A assimilação do nitrato deu-se totalmente durante a noite, nos sete tipos de Tillandsia observadas a cada duas horas num ciclo de 24 horas.

“Esse fato é totalmente inédito. Qualquer livro de fisiologia vegetal diz que a nitrato redutase é uma enzima dependente de luz, de energia”, afirma a coordenadora dos trabalhos, Helenice Mercier, referindo-se ao fato de que a literatura científica acredita na absorção de nitrogênio pelas plantas somente durante o dia, devido à disponibilidade de energia proveniente da fotossíntese. “Nós obtivemos surpreendentemente a assimilação do nitrato sempre à noite”, completa. Resta ao grupo caracterizar esse tipo de enzima, descobrir suas particularidades e saber como é suprida a energia necessária para sua atuação.

Outro alvo dos pesquisadores é uma enzima chamada arginase. Sua atuação é descrita na quebra de aminoácidos e produção de uréia. Mas o grupo quer provar que a enzima tem outra via de produção, que é a transformação da uréia diretamente em aminoácidos, sem antes ser transformada em amônio. “Isso seria vantajoso para a planta. Ela economizaria uma etapa no metabolismo normal de produção de aminoácidos”, explica Helenice. Segundo ela, essa estratégia de absorção seria importante para o desenvolvimento da planta porque as bromélias crescem lentamente e em ambientes com poucos nutrientes.

Organogênese

Outra linha de pesquisa desenvolvida é a indução da organogênese, geração de uma planta a partir de um fragmento de outra planta da mesma espécie. Os pesquisadores do IB utilizam pedaços de folhas de bromélias para desenvolver o estudo e verificar quais os fatores que atuam nessa indução. Descobriu-se que as células vegetais recebem um sinal, que se converte em sinal endógeno, para iniciar o processo de divisão. Esse sinal seria alxinas e citocininas, hormônios vegetais.

Mas o estudo constatou recentemente que existe um sinal anterior aos hormônios, ligado a mudanças no metabolismo de aminoácidos. A forma como se dá essa mudança revela a possível relação entre essa fase e a posterior. Os resultados ainda não apontam a ligação entre os processos, mas o grupo sabe o tempo exato em que eles ocorrem e sua importância na divisão celular.

Além de buscar essa ligação, os cientistas suspeitam que um terceiro sinal, o cálcio, também estaria envolvido na indução. O cálcio é conhecido em células animais, onde sua variação fornece informações sobre o processo de divisão celular. Os três sinais, além de atuarem em conjunto, estariam ainda relacionados à expressão de um gene responsável pela produção da ciclina B (proteína que libera o processo de divisão celular).

“Queremos conhecer o tempo de expressão do gene em função da indução por hormônios, cálcio e aminoácidos. São esses os próximos passos do estudo”, finaliza a coordenadora.

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