São Paulo (AUN - USP) - Durante o seminário Drogas: Aspectos Penais e Criminológicos, realizado na faculdade de Direito da USP, profissionais da área de medicina e direito discutiram o crescimento do consumo de drogas e a constitucionalidade das ações repressivas tomadas pelo governo. Foram também apresentados os dados das últimas pesquisas do PRODUSP (Programa de Prevenção de Drogas na USP). No entanto, o que mais chamou a atenção, foi a contradição entre duas integrantes do Cebrid. Uma delas chegou a afirmar que a mídia contribuiu para o aumento do consumo de drogas no Brasil durante a década de 90, o que foi refutado por um estudo apresentado pela outra pesquisadora.
As palestras de membros do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), entidade que funciona na UNIFESP e realiza cursos e levantamentos sobre consumo de entorpecentes, abordaram desde os fatores que levam jovens ao uso, até estudos feitos entre meninos de rua e estudantes.
A farmacêutica do centro, Ana Regina Noto, apresentou uma pesquisa relacionando o uso de drogas ao jornalismo brasileiro. De acordo com a ela, o consumo elevado de drogas na década de 80 nos EUA, que resultou em uma forte repressão, suscitou o assunto na mídia brasileira, que na época não possuía dados concretos sobre o país e utilizou-se de números alarmantes da realidade norte-americana.
No entanto, o quadro brasileiro era de consumo moderado e estável. Já nessa época a imprensa estava mais centrada na repressão e no tráfico e passava-se a idéia de que era necessário salvar nossos jovens. Na década de 90 esse quadro ficou instável e o consumo entre jovens aumentou. Segundo Ana Regina, “a mídia plantou a curiosidade na população e o consumo cresceu”.
Em uma pesquisa realizada no ano passado, que analisou artigos de jornais e revistas, 2.830 reportagens relacionavam o assunto a tráfico e repressão, enquanto 2010 à saúde, política e legislação. A capa de Veja de 26 de julho de 2000, por exemplo, trazia a chamada “Maconha quase liberada”. “A imprensa é o grande referencial da verdade da população. Ela influencia a opinião e determina a agenda pública”, discursou a pesquisadora. Ana Regina também alertou para a necessidade do desenvolvimento da crítica entre os profissionais de mídia e de uma aproximação com a área da saúde.
A farmacêutica e bioquímica do mesmo centro, Solange Nappo, entretanto, apresentou outra pesquisa que discutia os principais fatores que levam ao uso de drogas pelos jovens, como o nível sócio-econômico. Surpreendentemente, os dados apontavam que a informação da mídia não era de fundamental importância para o uso de drogas, mas sim aquela proveniente da própria família.
O estudo da Ana Regina Noto, apesar de conter exemplos verídicos, como demonstra a capa da Veja, não deveria generalizar o jornalismo em sua totalidade, sendo que apenas exemplos de jornais e revistas foram contabilizados. De fato, alguns veículos da imprensa apontam para esse direcionamento, mas que no fundo também são um reflexo da própria posição adotada por alguns setores da sociedade e do próprio governo, com medidas cada vez mais duras na repressão. Muito menos deveria tornar a mídia um dos responsáveis pela difusão do consumo de drogas entre a juventude brasileira, o que é negado na pesquisa da dra. Solange Nappo, do mesmo instituto.