São Paulo (AUN - USP) - A incidência dos casos de câncer infantil na cidade de São Paulo aumentou consideravelmente nos últimos trinta anos, é o que informa o estudo realizado pela Faculdade de Saúde Pública. Nela há a comparação dos dados de 1969, quando foram registrados 128,5 casos de câncer em cada milhão de crianças, com os de 1997/98, quando os números subiram para 222,5 por milhão para meninos e 195,1 casos por milhão para meninas. O câncer em menores de quinze anos representa apenas 1,5% do total de casos da doença registrados da população da cidade, mas merece atenção pelo desgaste físico e psicológico que as crianças e suas famílias sofrem.
A taxa de sobrevida até o quinto ano do início do tratamento em São Paulo é de 41%, relativamente baixa, se equipara a outros Estados do Brasil e cidades da América Latina. Este resultado fica muito aquém daquele registrado nos países mais ricos, que chega a 70%. Essa baixa sobrevida é decorrência do despreparo com que a sociedade e o meio médico lidam com este problema, pois os pais e médicos não especialistas muitas vezes não associam os sintomas a sua causa. "Por isso os pais devem estar sempre atentos. Qualquer alteração na criança, surgimento de gânglios, dores constantes, problemas na vista, um médico deve ser consultado", recomenda o professor Antonio Pedro Mirra, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenador do grupo que fez a pesquisa.
Para a prevenção do câncer infantil, mais do que prestar atenção aos possíveis sintomas, os pais devem evitar se exporem à radiação, substâncias químicas e agrotóxicos; principalmente no período de gestação, e o consumo de fumo, maconha e álcool, que podem aumentar a predisposição da criança a desenvolver a doença. Ainda assim, o fator genético é o que mais influencia na predisposição para a patologia.
Uma vez detectado o câncer, se houver recursos para o tratamento, há muitas chances de sobrevivência e cura da criança. No entanto, dos 338 hospitais e instituições analisados no estudo, apenas 104 atendem pacientes pediátricos, e destes, apenas quatro têm estrutura para dar um tratamento da melhor qualidade aos pacientes. Estes últimos contam com taxas de sobrevida semelhantes às de países desenvolvidos.
O professor Mirra ressalva que às vezes o fator limitante não são os recursos dos hospitais. Como disse em entrevista para o site Biotecnologia Ciência e desenvolvimento ( http://biotecnologia.uol.com.br/bionoticias/noticia.asp?id=779 ) : "O que mais atrapalha para o tratamento e para a cura é o diagnóstico tardio. A criança nem sempre se manifesta, principalmente quando é bem pequena, ocorre atraso na primeira consulta e há o papel do médico, que muitas vezes não está familiarizado com tumores de infância. Se for diagnosticado precocemente, há muitas chances de cura hoje em dia”.