São Paulo (AUN - USP) - Um grupo de ensino e pesquisa, orientado pelo professor Joel Zanetic do Instituto de Física da USP, estuda novas formas de aprendizado da física no ensino, através de sua associação com elementos culturais como filosofia, música, literatura e teatro. O trabalho tem como objetivo tornar o aprendizado da disciplina mais atraente e acessível para os alunos, apresentando a física como uma construção humana e não como uma simples atividade de resolução de exercícios.
A partir das atividades do grupo, a professora Neusa Raquel de Oliveira iniciou em 2000 um trabalho de mestrado que discute a utilização e a presença do teatro no ensino da física. O trabalho tem como principais objetivos tornar o ambiente da sala de aula mais propício ao diálogo e apresentar os aspectos humanos dos profissionais da física, aproximando-os da realidade dos alunos. Para isso, o teatro mostrou-se como ferramenta ideal devido sua linguagem, interação e contribuição na formação do indivíduo.
As atividades propostas pelo trabalho baseiam-se nos jogos teatrais elaborados pela professora de teatro americana Viola Spolin. Nesses jogos, os alunos, através de uma improvisação teatral, devem atingir um objetivo determinado através de relações estabelecidas com outros personagens, com o ambiente criado ou com as ações encenadas. A importância pedagógica desse processo está no estabelecimento de relações possibilitado pela interação própria do teatro e na mudança de posicionamento dos alunos que, ao incorporar um personagem, sentem-se mais confortáveis para exporem suas dúvidas e opiniões. “Uma das funções da educação é permitir que o aluno se mostre, se arrisque”, diz Neusa. Também são exploradas nas atividades as idéias do educador Paulo Freyre, permitindo que o aluno encontre a resposta do problema da maneira que melhor lhe parecer. A atividade termina com uma avaliação, feita por todos os alunos, da improvisação teatral, que permite a discussão das soluções escolhidas, a proposta de novas soluções e a apresentação de novos problemas.
Durante um ano e meio, a professora Neusa Raquel aplicou essas atividades na sua turma do terceiro ano da Escola Estadual Elisa de Oliveira. Nesse período, foram elaborados jogos teatrais baseados em textos relacionados à física e seus profissionais. As atividades possibilitaram a discussão na sala de aula de temas como a formação humana dos físicos, sua suscetibilidade ao erro, ética, cidadania, expectativas e planos para o futuro. Numa das ocasiões, em que os alunos trabalhavam um texto sobre os planos e as expectativas para o futuro do jovem Albert Einstein, um dos alunos sentiu-se confortável para falar sobre sua história e seu envolvimento com drogas. “O ensino não pode fechar os olhos para essas questões”, diz Neusa. Assim, o diálogo criado pelos jogos não limita o conteúdo da discussão na física, permitindo que outros temas importantes para o aluno e sua formação sejam debatidos.
No último ano, a professora Neusa Raquel afastou-se da Escola “Elisa de Oliveira” para concluir o trabalho, mas pretende voltar a realizar as atividades com os alunos do ensino médio.
Atualmente, ela estuda a aplicação das atividades dos Jogos Teatrais na formação dos professores. A metodologia seria utilizada como ferramenta para diversificar as formas de ensino da física.