São Paulo (AUN - USP) - Em seu Mestrado, Um estudo das Relações Bilaterais entre o Brasil e a Nigéria sob a estrutura das Relações Sul-Sul, defendido recentemente no Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI), a nigeriana Afoluke Olabisi Atoyebi constrói um panorama do relacionamento entre os dois países ao longo das últimas décadas. A pesquisadora busca evidenciar o desenvolvimento da política externa nigeriana durante tal período, tomando como base para isso os acordos de cooperação ou parcerias, principalmente comerciais e financeiros, entre os países, como forma de ilustrar o interpenetramento entre ambos Estados em diversas esferas da vida social.
Segundo o estudo, as relações recentes entre Brasil e Nigéria podem ser dividas em dois períodos, um de maior aproximação e outro de posterior afastamento. O primeiro deu-se a partir da década de 1970, impulsionado pelos governos ditatoriais nos dois países. Nessa época, viu-se um incremento significativo na migração de jovens nigerianos para o Brasil, resultado de uma política deste último visando aumentar as relações com o país africano e criar uma massa crítica jovem que selasse tal união, principalmente através do aprendizado da língua e pelas relações comerciais. Assim, entre 74 e 78 assistiu-se à vinda de um número expressivo de estudantes nigerianos, incentivados pelas suas famílias ou por meio de bolsas de estudo concedidas por organizações como o CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Durante a década de 80, com um breve período democrático na Nigéria, esse panorama de proximidade intensificou-se, passando a haver uma presença ostensiva de empresas brasileiras no país, reflexo da posição deste como seu principal parceiro comercial. No entanto, a volta do governo militar desde 1983, mas principalmente com o general Sani Abacha em 1993, iniciou-se uma fase de afastamento entre os países. É essa tônica que, segundo Atoyebi, marca a relação entre estes atualmente, apesar das tentativas do governo nigeriano, democrático desde 1999, de retomar a aproximação. Assim, embora ainda existam alguns pontos de cooperação, a exemplo da manutenção de acordos de intercâmbio estudantil, mesmo que em menor número, e da parceria entre o Ministério da Energia e a Petrobras, os dois países atualmente dão maior prioridade a outros parceiros políticos e econômicos. No caso do Brasil, a atuação no continente africano têm-se dado entorno dos países que falam português, já a Nigéria passou a contar com o apoio prioritário de países como Índia e China.