São Paulo (AUN - USP) - Um workshop realizado na Universidade de São Paulo (USP) trouxe o diretor técnico do São Paulo Futebol Clube, René Simões, para falar sobre a profissionalização da gestão do futebol. O dirigente fez muitas críticas à mentalidade que domina a maioria das diretorias de clubes brasileiros, fez questão de resaltar como está “incomodado com tanta coisa no futebol”. Ele também falou sobre o trabalho que está desenvolvendo nas categorias de base do São Paulo.
O evento foi organizado pelo Gepae (Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão do Esporte) para discutir a gestão do futebol e suas relações com a Copa do Mundo de 2014. Além de René Simões também apresentaram suas palestras Bruno Caetano, diretor-superintendente do Sebrae, e Marcelo Rezende, da Secretaria Especial de Articulação da Copa 2014 em São Paulo. As palestras foram realizadas no auditório da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), com a presença de alunos, professores e gente de fora da universidade.
Para René Simões, um dos maiores problemas da gestão do futebol no Brasil são os dirigentes não serem profissionais, sem conhecimento teórico ou prático para exercer seus cargos com competência. A função é realizada em regime de dedicação parcial. Trabalhar como diretor de um clube é uma tarefa extra, então os dirigentes têm seus empregos fora do clube para se preocupar. René falou de suas experiências, quando técnico de futebol, com dirigentes amadores. “Quando eu era treinador, nada me incomodava mais do que um dirigente me falar: ‘faço isso aqui por amor, estou aqui sem ganhar nada’. Já cheguei a responder ‘Então, por favor, vá embora!’. Não tem nada disso de ‘faz por amor’, algum interesse ele tem”. Depois ele resaltou que existem exceções, “existem grandes dirigentes no futebol brasileiro, mas são a minoria.”
Sobre a maneira de se chegar a uma gestão profissional, René Simões acredita que não é possível sem o casamento entre gestão executiva, RH, administração financeira, departamento jurídico e departamento de marketing. Os clubes brasileiros ainda estão engatinhando na organização funcional desses departamentos. O RH, por exemplo, tem pouquíssima atuação dentro de um clube, o próprio presidente é que decide demitir ou contratar jogadores e técnicos de acordo com suas vontades.
Para ressaltar a importância de um departamento jurídico bem organizado, René citou o caso recente do jogador Oscar, que recentemente moveu uma ação na justiça contra o São Paulo para poder trocar de time e jogar pelo Internacional de Porto Alegre. “O São Paulo teria perdido o Oscar sem ganhar absolutamente nada se não estivesse bem organizado.”
René Simões pretende passar três anos como diretor técnico das categorias de base do São Paulo e depois desse período, passar a ocupar o mesmo cargo no futebol profissional. Ele falou sobre a preocupação em formar não apenas jogadores de futebol, mas também formar homens. “Em uma estimativa otimista, 20% dos garotos da base vão chegar ao profissional. E os outros?”. Comentou também sobre o processo de escolha de jogadores, não são escolhidos todos os garotos que apresentam talento, apenas aqueles que se encaixam no modelo de jogo do clube. Essa é uma novidade importante, pois pode ajudar a diminuir os gastos que o clube tem com a base, considerando que com um processo de escolha mais seletivo, a porcentagem de jogadores da base que chegarão ao profissional aumenta.
Para encerrar, René disparou contra o conservadorismo que impera no meio do futebol. “Existe uma mentalidade contra a ciência no futebol, isso é muito duro”. Ele conta que hoje, com quase 60 anos, joga futebol melhor do que quando era jovem, pois hoje sabe tem mais conhecimento do que tinha na época em que era jogador: “Na minha época era só campo e bola, campo e bola o tempo todo, e a gente não aprendia absolutamente nada”.