ISSN 2359-5191

23/07/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 79 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Ciências Biomédicas
Pesquisa descobre hormônio de efeito neuroprotetor

São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa recente, desenvolvida por professores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), descobriu que o hormônio ouabaína consegue ativar substâncias de efeito neuroprotetor no sistema nervoso central (SNC). Fármacos desenvolvidos com base nesse hormônio podem vir, futuramente, realizar o tratamento de doenças neurodegenerativas, a exemplo do mal de Parkinson e do Alzheimer.

A ouabaína pode ser extraída da planta Strophantus gratus. Seu congênere, a digoxina, promove a normalização do ritmo e o aumento da força de contração do músculo do coração. Atualmente, a digoxina tem sido utilizada para tratamento de insuficiência e arritmia cardíaca.

“Nos Estados Unidos e no Japão, cientistas constataram que a ouabaína também é produzida no organismo humano, em pequenas quantidades. Vestígios do hormônio foram encontrados no sistema nervoso central e, mais tarde, constatou-se que a ouabaína é produzida também nas glândulas suprarrenais”, conta Cristóforo Scavone, que orientou o estudo desenvolvido por Elisa Mitiko Kawamoto, no laboratório de Neurofarmacologia Molecular do ICB-USP.

Para comprovar a atividade neuroprotetora da ouabaína, os pesquisadores desenvolveram dois estudos. Em um deles, cientistas injetaram o hormônio na região do hipocampo cerebral [região ligada à perda da memória] de ratos. Resultados mostraram um aumento na quantidade de determinada proteína, que possui capacidade de modelar a expressão de genes importantes para a proteção das células neurais.

Nesse estudo, foram usadas baixas concentrações de ouabaína, de acordo com o nível fisiológico. As utilizadas para a produção de fármacos cardiotônicos costumam ser mais altas. Essas baixas concentrações conseguiram controlar a ação dos receptores de glutamato, um aminoácido excitatório fundamental para o funcionamento do sistema nervoso central.

Um outro estudo foi desenvolvido pela pesquisadora Larissa de Sá Lima, do mesmo laboratório. Nesse experimento, o hormônio foi injetado em culturas de células neurais primárias e glia [conjunto de células que envolvem os neurônios] dos ratos. Os resultados obtidos com esse trabalho foram bem semelhantes aos do primeiro, indicando que a ouabaína realmente modula os genes envolvidos com as respostas inflamatórias dos fatores neutotróficos [proteínas que favorecem a sobrevivência dos neurônios].

O glutamato e as terapias inovadoras
O excesso de glutamato pode provocar a morte das células neurais. Por esse motivo, é comum encontrarmos altas quantidades do aminoácido associadas a doenças neurodegenerativas, como o mal de Parkinson e o Alzheimer.

No caso do mal de Parkinson, a parte motora é afetada em decorrência de problemas com os neurônios ligados à produção de dopamina. Já no caso do Alzheimer, é no sistema límbico [área do cérebro responsável pelas emoções] que a morte das células causa mais danos.

Segundo Scavone, o tratamento dessas doenças neurodegenerativas é todo à base de fármacos paliativos. “Os tratamentos convencionais apresentam bons resultados em alguns pacientes. Já outros, não respondem tão bem ao tratamento. Sabemos que as doenças neurodegenerativas são multifatoriais”, explica o professor.

Por esse motivo, a descoberta da pesquisa de Scavone surge como uma nova possibilidade para o tratamento dessas doenças. A presença da ouabaína modula a ação dos receptores de glutamato e produz genes importantes para que se evite a morte dos neurônios. É o que podemos chamar de sinalização protetora. Os estudos com este hormônio nos permitem vislumbrar um possível desenvolvimento de fármacos que sejam capazes de bloquear os processos ligados à morte neuronal, impedindo, dessa forma, que as doenças progridam.

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